Por Espn Brasil - Postado por Abraao Na Rede
Zico voltou. Às vésperas de completar 60 anos, Arthur Antunes Coimbra
está de novo de mãos dadas com, talvez, seu grande amor na vida. Em uma
relação de quase 46 anos, o Galinho de Quintino e o Flamengo se uniram a
ponto de se tornarem praticamente um sinônimo. Hoje, Zico significa
Flamengo. Flamengo quer dizer Zico. Na Gávea, o maior ídolo do clube
chegou filho, tornou-se pai, avô, jogador profissional e dirigente.
Viveu glórias, amargou – poucos, é verdade – fracassos. Em 2010, deixou o
clube magoado, acusado de tentar se beneficiar do Flamengo em
negociações com jogadores. Logo ele, ícone de uma geração que
transformou o clube levando-o ao topo do mundo. Nada foi comprovado e as
seis décadas de vida trouxeram o Galo de volta ao seu terreiro. No colo
de uma nação.
Embora não tenha um cargo oficial, Zico voltou a ter voz ativa
no clube. Convidado a integrar de maneira fixa o conselho gestor de
futebol, no entanto, declinou. Prefere não se envolver mais de caráter
oficial. Mas, de novo, já se sente mais à vontade na Gávea. Em
fevereiro, esteve na sede para gravar vídeos
e tirar fotos para a campanha dos 60 anos, com direito a venda de uma
blusa comemorativa com verba revertida para a conclusão do Ninho do
Urubu. Por vezes, aliás, o ídolo tentou ajudar na montagem do CT.
Participou de campanhas de pulseirinhas e tijolinhos. Agora, deve ter
sua imagem atrelada ao projeto de sócio-torcedor. Zico e Flamengo, de
novo, se misturam.
“A participação dele é pequena, mas volta e meia há uma
consulta. Se há um atleta que ouvimos falar, ligamos e consultamos.
Cargo, ele não quer. Preferiu assim. Temos projeto dos embaixadores
rubro-negros para representar o clube no Brasil
e no exterior. Ele, naturalmente, é o grande nome para isso. É o grande
ídolo de todos nós”, afirmou o vice-presidente de futebol do Flamengo,
Wallim Vasconcellos.
De fora para dentro nasceu o movimento “Zico 60 anos”, proposto por
torcedores. A ideia: homenagear o maior ídolo do clube em seu
aniversário e estender o tapete vermelho para reverências Brasil a fora.
No dia 3 de março, data quase celebrada como um Natal para muitos
rubro-negros, Zico completará 60 anos e o movimento sugeriu pintar o
país com as cores rubro-negras. Camisas, flâmulas e bandeiras. O ídolo
voltou à casa. Já sem mágoas. É consultor da diretoria e terá direito a
uma estátua dentro da Gávea, a quarta que receberá na vida, as outras
estão no Japão (duas) e no Maracanã. Por meio de redes sociais e no dia a
dia, o eterno camisa 10 acompanha o carinho que recebe. Para quem
cansou de jogar bonito, dar um bico no passado recente não foi tão
dificil com o apoio da massa.
“As coisas que aconteceram ali dentro machucaram muito mais o
torcedor. Eu fiquei chateado, mas ele sentiu na pele. O movimento
poderia ter sido nos 40 anos, nos 50 anos, mas acho que, por ter tido
esse problema, motivou mais o pessoal a fazer esse tipo de homenagem. É
uma gratidão por entenderem aquilo tudo que representei”, afirmou Zico
ao ESPN.com.br
O ensaio do retorno do quase sessentão ao clube foi dado já na última
eleição presidencial do clube. Em oposição à então presidente Patricia
Amorim, com quem teve problemas na sua saída como diretor de futebol em
2010, Zico decidiu apoiar a Chapa Azul, de Eduardo Bandeira de Mello. No
início, o cabeça do grupo seria Wallim Vasconcellos. Já no lançamento
de sua candidatura, em 2012, no Leblon, Marcello Tijolo, idealizador do
movimento “Zico 60 anos”, pediu uma estátua para o ídolo. De
bate-pronto, Wallim respondeu. Presente ao encontro, Zico lembra da
cena.
“Eles estavam falando e alguém levantou e disse: ‘Tem de fazer a
estátua dele!’. O Wallim já respondeu: ‘Vai ser a primeira
providência!’. Coisas assim vêm sempre do torcedor. É o que eu respeito.
Meu respeito maior é sempre pelo torcedor”, disse Zico.
A candidatura de Wallim foi impugnada pelo Conselho de
Administração, mas a ideia da estátua, não. O Galinho esteve presente no
dia da eleição de Eduardo Bandeira de Mello, na Gávea. Posou para fotos,
deu autógrafos e teve participação decisiva no resultado do pleito.
Eleição vencida, a primeira tarefa foi convencer Zico a aceitar a
estátua. O homenageado temia que a escultura fosse vista com viés
político. Aos poucos, com a insistência de amigos e fãs, cedeu. Os
departamentos de marketing e comunicação esfregaram as mãos e deramo
pontapé inicial. Com colaboradores, foi levantada a soma para construir a
estátua. Nada barato.
“Não é como pagar um jantar, isso eu garanto”, afirmou o
vice-presidente de marketing do Flamengo, Luis Eduardo Baptista, o Bap.
Mas, ironicamente, foi mesmo num jantar que a estátua e a
reaproximação de Zico com o Flamengo tomou ainda mais forma. O projeto
foi tocado pelo vice de comunicação, Gustavo Oliveira. Consultado, o
Galinho deu sugestões sobre como gostaria que fosse a homenagem. A cada
novo passo do processo, ele foi informado, observando as provas de
imagem da estátua, em tamanho natural (1,72m), de bronze e com
acabamentos com direito a brilho. Entre uma garfada e outra, Zico
informou qual era a imagem que mais o agradaria.
“Ele disse que tinha uma comemoração em especial que ele
gostava muito. Tinha até sido plano de fundo no CFZ. Ele falou qual era o
momento, mandamos a foto para o artista e começamos a desenvolver a estátua a partir dessa foto. Assim que foi feito”, disse Bap.
A foto citada por Zico é de uma partida contra o Botafogo, um empate
em 3 a 3. No lance, ele saiu de braços abertos para comemorar o gol. A
imagem foi pôster do seu filme, lançado em 2002. A homenagem ficará na
entrada da Gávea, logo após a escadaria da entrada principal, entre a
loja Fla-Concept e a catracas para entrada dos sócios. De braços
abertos, dará boas vindas as rubro-negros. Zico voltou ao Flamengo.
Agora, definitivamente, para ficar.
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