segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Técnico do Flamengo, Dorival Junior, garante: ‘Se não produzir, sai do time’

Por Jornal Extra - Postado por Abraao Na Rede

A história de Dorival Júnior começou a ser escrita pelos pés do tio Dudu, volante com 13 jogos pela seleção brasileira, que, nos anos 60 e 70, marcou época no Palmeiras ao lado de Ademir da Guia. O sobrinho Dorival cresceu com o futebol na veia e, no Flamengo, começa a assinar um novo capítulo de sua vida.
Jogo Extra: Você revelou uma vez que, nos tempos de jogador, sonhava com o futebol carioca. Por quê?
Dorival Junior: Sempre tive uma vontade louca de jogar no Rio e não consegui. Achava que, tecnicamente, meu futebol se assemelhava com o que era jogado no Rio. O futebol carioca sempre teve glamour. Era mais bem jogado, mais técnico. Eu era mais de técnica do que de força.
Jogo Extra: Qual era o jogador do Rio que, na sua posição, de volante, enchia os olhos?
Dorival: Andrade. Era fantástico.
Jogo Extra: Um dos seus filhos (Lucas Silvestre) é seu auxiliar. E sua família sempre foi ligada à bola. A influência foi forte?
Foi. Sou sobrinho do Dudu, volante que jogou durante 12 anos no Palmeiras. Quando me descobri como gente só ouvia falarem em Dudu e Ademir da Guia. Meu pai foi dirigente do Ferroviária de Araraquara, time da nossa cidade. Meu irmão (João Henrique) foi jogador e, hoje, é diretor do Comercial de Rio Preto.
JE: Teve alguma relação com o Flamengo no passado?
Meu irmão era flamenguista. Mas, em razão do Dudu, a família toda era palmeirense. E torcíamos para o time da cidade, o Ferroviária.
JE: Sua mulher aprova tanto futebol em família?
A Valéria é pai e mãe. Administra toda a situação. Sempre me deixou tranquilo. Já foi mais difícil. Houve tempo em que meus contatos com a família eram raros. Estou há 10 anos morando em Florianópolis. Mas, talvez, só passe um mês por ano em casa. Estou procurando apartamento. Normalmente, ela é que vem ao meu encontro.
JE: Vai morar onde?
Na Barra ou Recreio. Tem que ser perto do Ninho.
JE: Você vai morar na Barra, mas já foi visto na Lapa…
Na Lapa?
JE: É… No Clube dos Democráticos, num samba…
Ah (risos)… Foi ele que me levou (aponta para o assessor de imprensa Nelson Costa). Fomos lá na época do Vasco. Minha cidade, Araraquara, é a terceira cidade do País que mais gosta de samba. No meu carro só toca samba. Gosto de Revelação, Jorge Aragão, Exalta, Monarco, Martinho… Gosto de Cartola também.
JE: Você já compôs?
Não sei compor, não canto, sou muito fraco sambando. Mas gostaria de ter esse gingado. Quando estava no Vasco, fui também à quadra do Salgueiro. O Galdino (técnico dos juniores) é diretor de bateria… Gosto desses lugares, mas se tomo um copo d’água, vão dizer que me viram com pinga na mão.
JE: Todo treinador que assume o Flamengo precisa responder a uma pergunta: você quer o Adriano?
É delicado falar sobre o Adriano. Não sei o que ele quer.
JE: Qual é o time favorito ao título brasileiro?
O Campeonato Brasileiro é o único do mundo que não tem favorito. Acontecem surpresas. O Flamengo mostrou isso em 2009. Poucos acreditavam. Esse é o único campeonato do mundo em que o primeiro colocado perde para o último, às vezes até por goleada.
JE: Onde Flamengo pode chegar?
Num primeiro momento, preciso observar e conhecer esse grupo. Se houver alguma contratação, será importante. Mas, caso não aconteçam as contratações, não vou ficar chorando ou lamentando. Vou tentar trabalhar com os que estão aqui.
JE: Já sabe o nome de todos os jogadores?
Da maioria, sim. Num primeiro momento, eu ainda fico em dúvida na hora de chamar um ou outro. O que é normal. São 34 ou 36 jogadores…
JE: Esse número é bom ou o elenco está inchado?
Não está bom. É muito! Não convém trabalhar com um grupo assim. Gosto de trabalhar com 26… No máximo, estourando, 30 jogadores.
JE: Vai devolver alguns garotos para a base e dispensar jogadores sem chance de aproveitamento?
Vou dar um tempo por enquanto para não tomar uma atitude precipitada, e, depois, pensar em alguma coisa.
JE: Você já deixou claro que não quer uma sobrecarga de responsabilidade sobre os garotos. Como evitar?
Isso não quer dizer que eles não vão jogar. A necessidade que o Joel visualizou aqui foi a mesma que tive quando estive no Atlético-MG (2010/2011). Tive que lançar o Bernard, o Felipe Souto, o Renan… Mas não quero mesmo uma responsabilidade excessiva sobre os garotos. Vou fazer com que os mais vividos se apresentem e chamem a responsabilidade. Os garotos têm que ser só um complemento.
JE: Com quantos jogadores você trabalhava no Internacional?
Ah, tínhamos um grande número de desfalques por contusão. Chegamos a ter média de cinco jogadores fora por partida.
JE: Você foi demitido do Internacional sem o gostinho de comandar Juan e Forlán. E veio para um time que foi recusado pelo mesmo Juan. Acha que saiu de um elenco forte para um mais frágil?
Em termos de elenco, o Internacional é uma das grandes equipes do futebol brasileiro. O Flamengo está em processo de reformulação. Isso tem um peso muito grande.
JE: Além do Juan, o Riquelme também recusou o convite do Flamengo…
Não é uma recusa. São propostas de trabalho. Você faz uma opção que parece ser mais vantajosa no momento. Nós, que trabalhamos no Flamengo, temos a obrigação de mudar essa concepção, como o Vasco fez em 2009. Dentro do Flamengo, não tenho dúvida de que os jogadores vão voltar a ter esse gosto, essa alegria. Aí, de repente para alguns, as portas também não estarão abertas. Veja bem: não estou mandando recado para ninguém.

JE: Como mudar?
Em primeiro lugar, a torcida precisa abraçar a equipe. Precisamos desse abraço. Não vou jogar uma mentira para o torcedor. O time está em processo de reformulação. As consequências são os altos e baixos que teremos.
JE: A saída do Ronaldinho Gaúcho magoou a torcida. Você percebe algum trauma entre os jogadores?
Isso tem acontecido. Sempre houve um respeito muito grande pelo Ronaldo aqui dentro. É natural que o grupo todo sinta a saída dele. Até porque todo o trabalho foi feito em função da figura do Ronaldo. Mas a vida do Flamengo continua. Temos que olhar para a frente. E haverá coisas boas para o Flamengo.
JE: Você pensa no título brasileiro ou numa vaga para a Libertadores?
Penso em trabalho nesse momento.
JE: Riquelme ficou assustado quando, na derrota para o Corinthians, a torcida virou-se de costas. E você, assustou-se com a cena?
Não. Entendo a reação. Temos que trabalhar para que isso não aconteça mais.
JE: Você disse recentemente que não aceitaria interferências da diretoria…
Não foi bem assim, não. A interferência deve ser das pessoas próximas. Zinho tem uma função próxima. A palavra do treinador tem que ser a última, mas as opiniões são válidas.
JE: Zinho pode interferir?
Ele tem todo o direito. Joguei com ele no Palmeiras. Tenho respeito e consideração por ele.
JE: Fernandão, no Internacional, podia interferir?
Você tem que ouvir, analisar…
JE: Fernandão foi antiético ao largar a função de dirigente e assumir o seu lugar de treinador no Inter?
(Risos). Não gosto de falar. Acho normal. Tranquilo.
JE: Já conversou com a presidente Patricia Amorim?
Não. Ela viajou no dia em que eu estava chegando para conversar. O Michel (Levy) ligou para ela, que estava na fila do embarque, e me passou o telefone. Conversamos por 10 minutos. Ela me desejou sorte e disse que não tinha como cancelar a viagem. Disse que adorou o acerto e que estava na torcida.
JE: Você já fez história no Vasco, ao tirar o time da Série B. Acha que agora, no rival maior, será vaiado pela torcida vascaína?
Ao contrário. Sempre existiu muito carinho. Já cruzei com vascaínos na rua. As pessoas entendem. Sempre me preparei muito para estar à frente de grandes equipes que lutam por títulos.
JE: Está dizendo que o Flamengo luta por título?
(Risos). Estou dizendo que já lutem um por um título esse ano: o do Campeonato Gaúcho.
JE: Já consegue sentir a dimensão do Flamengo?
A paixão rubro-negra é mesmo um negócio diferente. Vem do País todo, né? É uma responsabilidade bem grande. Espero estar preparado para retribuir a confiança do torcedor e da diretoria. Mas não tive ainda muito contato com a torcida. Estou fazendo o trajeto Ninho-hotel, hotel-Ninho. Só saio para trabalhar e procurar apartamento.
JE: O que esse apartamento precisa ter? Você sabe cozinhar?
Preciso do básico. Nunca fui dependente. Frito um ovo como ninguém e fervo um leite que é uma maravilha (risos). Eu me viro. Faço arroz, feijão e um complemento.
JE: Você bebe?
Gosto de vinho, mas não sou um conhecedor. Não tenho gosto para outra bebida. O presidente do Cruzeiro me deu uma garrafa de aguardente Havana em 2007 e até hoje não abri. Mas já provei uma vez. É melhor que uísque.
JE: Bebe uísque?
Uma dose por ano.
JE: Jogador pode beber?
Não sou contra. Pode comer, beber e se divertir, mas respeitando os seus direitos e deveres. O atleta profissional não pode perder sua vida social. Não fico toureando jogador, não. Se ele não produzir em campo, sai do time. Infelizmente, o atleta brasileiro não tem limite, não tem medida. Ainda não encontramos essa confirmação de profissionalismo. Ele não tem base. Família e educação são duas instituições totalmente falidas no nosso País. Sem berço, o jogador vê um País desregrado, sem comando. As pessoas que deveriam dar exemplo são as que iniciam os movimentos contrários à ética e à moral. Os políticos se abraçam a tudo isso. Um País sem referência não terá como cidadão uma pessoa de bem. Temos mais de 100 mortes por assassinato ao longo de um mês no País. Esse número é muito maior do que o de mortes num país em guerra civil. Pra mim, é um caos social. Está encoberto, mas é um caos social. As pessoas não se respeitam mais. Vamos cobrar de quem? Enquanto tivermos um presidente do senado (José Sarney) com essa cara, não vamos a lugar nenhum.
JE: O treinador acaba virando um disciplinador?
Você não tem o respaldo de ninguém para disciplinar. A cada momento que passa as gerações estão muito mais comprometidas e abusadas.
JE: Não sei se é a melhor hora para abordar outro assunto, mas o…
Vai perguntar sobre o Neymar?

JE: Mais tarde. E o Vagner Love? Quem assistiu ao treino de quinta-feira disse que ele era o último da fila na corrida. Ele está cometendo excessos na vida pessoal?
Os jogadores deveriam dar a volta no campo em 1min27. Mas estavam fazendo o trabalho em 1 min10. O Love fez em 1min12. Está ruim? Acho que essa falta de gols (oito jogos sem marcar) é um momento do atleta. Assim como um goleiro pode tomar gols incríveis em algumas rodadas. O Vagner vai voltar a marcar, desde que trabalhe com intensidade e que a equipe lhe dê possibilidades de definir.
JE: Como é sua relação com Neymar, que de certa forma causou sua saída do Santos?
Não ficou nada… A briga tinha sido com o Edu Dracena e o Roberto Brum.
JE: Renê Simões chegou a sair em sua defesa, dizendo que estavam criando um monstro. Neymar é um monstro?
Que nada! O moleque é um doce. Neymar estava um pouco alterado mesmo. A vida dele mudou dos 16 para os 17 anos. Um cara mais experiente também se alteraria. Imagina um garoto… Onde o Neymar ia, juntava gente. Parecia a ‘Beatlemania’. O Santos passou a andar com três, quatro seguranças só para o Neymar.
JE: Por que saiu do Vasco?
Porque o contrato acabou, não houve renovação. Quando você é do bem, as coisas acontecem de uma maneira lógica e natural. Saí do Vasco e fui para o Santos. Foi ruim para mim? Foi excelente. Foi ruim para o Vasco? Foi muito bom.
JE: Ainda vê o seu dedo lá, quando assiste aos jogos?
Mudou muita gente. No ano passado, em 2011, estavam decidindo a Copa do Brasil os times em que trabalhei em 2008 e 2009, Coritiba e Vasco, com cinco jogadores de cada lado. E o Santos, que estava jogando a final da Libertadores, só não tinha o Elano. Então, isso é gostoso. É melhor do que falar em briga com Neymar, com o Santos… Não briguei com ninguém.

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