terça-feira, 30 de outubro de 2012

Patricia revela remédio para dormir após saída de Luxa e conselhos com Laor para comandar Flamengo

Por Uol - Postado por Abraao Na Rede

Quase uma hora após o previsto, Patricia Amorim chega rapidamente ao seu gabinete, na Gávea, para receber a reportagem do UOL Esporte. Como de costume, a presidente do Flamengo está correndo contra o tempo e dividida entre o comando do clube e as obrigações como vereadora do Rio de Janeiro. Entre uma mordida no pão de queijo e um gole na água de coco, a mandatária busca explicações para os seguidos ataques que sofre nos bastidores e conta um pouco da sua rotina fora do poder e dos muros da sede rubro-negra.
E parte dessa correria será amenizada a partir de 2013, já que não foi reeleita para a câmara de vereadores da capital carioca. A outra rotina, no entanto, como presidente, Patricia só terá uma definição sobre sua continuidade em dezembro, quando os sócios do Flamengo decidem sobre sua reeleição.
E a mandatária parece não temer uma possível derrota na votação. Mesmo buscando ficar mais três anos no poder, ela poderá, em caso de novo revés político, saborear uma vida que não conseguiu curtir nos últimos anos, como mãe de uma família de quatro filhos. E as marcas deste período “longe” de casa são as piores possíveis.
Enfrentando a ira da maior torcida do país pela falta de resultados e dos opositores pelas críticas naturais às vésperas da eleição, Patricia revela que por diversas vezes não resistiu e teve que apelar a remédios para ter noites de sono tranquilas. Como no caso da demissão de Vanderlei Luxemburgo, em fevereiro deste ano, apontado por ela como o grande erro da sua gestão.
E mesmo diante das dificuldades, a presidente também consegue ver coisas positivas no período e busca ficar mais três anos no comando do Flamengo. Ela pretende dar uma “resposta” no futebol após uma fracassada temporada de 2012 e ainda quer tempo para seguir os conselhos que recebe de Luís Alvaro, presidente do Santos e seu “consultor” nos bastidores.
Em quase duas horas de conversa, Patricia Amorim ainda revela mudanças que serão feitas no marketing fracassado do clube, a relação com Adriano chegando ao limite do aceitável e uma sobrinha adotada como filha que serve como refúgio e companhia para raros momentos de lazer.
Confira a entrevista completa abaixo:
UOL Esporte: A senhora já foi derrotada na eleição para a câmara de vereadores no Rio e pode perder a eleição para a presidência do Flamengo. Caso isso ocorra, o que faria a partir do dia 1º de janeiro de 2013? Tem medo de uma nova derrota?
Patricia Amorim: Nenhum. Se isso acontecer, vou ser a mãe que não consegui ser nos últimos anos. Vou às reuniões da escola, aos jogos do Victor (filho mais velho que joga basquete pelo Flamengo). Tenho muita coisa para fazer que eu nunca consegui. Passei de atleta para a política do clube, depois para a câmara e nunca consegui parar e viver fora disso. Não sentirei nenhum vazio, até porque terei muita coisa para fazer em casa, com a família. E com o clube também, mas com mais prazer. Vou aos jogos de futebol fora do Rio, aos torneios de natação pelo Brasil. Além disso, vou estudar mais, ler bastante e ver meus filhos crescerem.
UOL: E com tanto desgaste no clube e prazeres fora dele, como a família, por que você ainda quer tanto continuar no comando do Flamengo?
PA: Porque preciso fechar um ciclo. Tudo tem começo, meio e fim, e eu ainda estou no meio. E seria justo que eu concluísse coisas que comecei. O CT, por exemplo, e o Morro da Viúva mostram bem isso. Ainda estamos no meio das obras do Ninho e resolvendo situações sobre o prédio que vai virar um hotel. Para o ano que vem, vamos receber cerca de R$ 14 milhões para terminar o centro de treinamento e fazer o da base. Quero fazer isso e dar de presente ao clube. Aqui na Gávea, reformei quase a sede inteira, mas ainda falta uma piscina nova, que é o meu maior sonho. E, claro, conseguir os resultados no futebol. Confesso que não foram bons nestes três anos. Quero sair do clube com uns títulos melhores nos próximos três anos.
UOL: A senhora reconhece, então, que a questão do futebol foi uma das falhas da sua gestão? E justamente onde a torcida mais cobra…
PA: Sei que preciso dar uma resposta no futebol, ganhar um título de expressão, o que não ocorreu nestes três anos. Mas as pessoas também falam besteiras muitas vezes. Até parece que o Flamengo ganhava título todo ano antes da minha entrada. Ganhou em 2009 após 17 anos. Fiz muita coisa. Valorizei a base, assinei contrato com os jovens, que antes pertenciam a empresários, e o clube passou a ter receita com seus próprios jogadores. Em 2012, sei que erramos, principalmente naquele início. E por isso as críticas. Mas é injusto não lembrar dos outros anos. E sobre a cobrança da torcida, é natural. Em 2011, gritavam meu nome nas arquibancadas. Um ano depois, o resultado não vem e eu só tomo pancada. Assim é a lógica do futebol.
UOL: Mas você pegou um time campeão brasileiro (Patricia foi eleita um dia após o título brasileiro de 2009) e termina a gestão brigando contra o rebaixamento. Ainda acha o trabalho bom?
PA: Claro. Peguei um time campeão, mas que nenhum jogador pertencia ao clube. Aquilo era uma coisa fora da realidade. Tivemos que reconstruir tudo. Eu já vi presidente aqui que não ganhou nada. Nós ganhamos estadual, fomos à Libertadores, ganhamos Copa São Paulo, revelamos atletas, temos os direitos sobre eles. O trabalho foi muito bom nestes três anos, mas querem avaliar só a falta de resultados em 2012. Tudo bem, erramos, mas será que foi só isso? Caramba! Paguei em dia, trouxe os melhores, mas não posso fazer nada se a bola bate na trave. Foram injustos na avaliação. As pessoas não me respeitaram, principalmente os jornalistas.
UOL: E por que você não se posicionou junto a imprensa para se defender disso? Por que passou tanto tempo calada, sem dar entrevistas?
PA: Porque as pessoas formam opinião antes e depois não querem me ouvir. São pessoas alienadas. Peço que os mesmos que me criticam venham conhecer o clube, ver o que mudou além do futebol. Mas isso não interessa. Talvez venda mais falar mal. E eles preferem isso. E eu não vou ficar respondendo e me desgastando mais. O time não vai bem e colocam a culpa em mim. Como assim?
UOL: Com tantas coisas boas, então, por que entraram com um pedido de impeachment e alegaram que sua gestão era temerária?
PA: Por nada. Tentaram fazer algo para desestabilizar. Só fizeram isso para desestruturar. É uma covardia, uma barbaridade. As pessoas têm que discutir o clube, a saúde financeira dele e a satisfação dos seus associados. Eu não me sirvo do clube e vivo com meus rendimentos. Tenho um apartamento, dois carros e nada mais. Minha mãe nem apartamento próprio tem. Como querem falar de enriquecimento, de gestão temerária. Nunca tive meu nome envolvido com roubo, desvio, nada. Pago dívidas hoje de gestões passadas. Tenho que pagar problemas com negociações de Souza, Renato Augusto, primeira venda do Ibson. E querem me criticar? Fiz tudo muito bem. Até no futebol eu fui bem em alguns aspectos. O Flamengo hoje é um clube com credibilidade, estrutura e reconhecido no meio do futebol. Todos falam isso. Tenho carinho de todos os outros presidentes do Rio e até mesmo de São Paulo. O Luís Alvaro (presidente do Santos), por exemplo, falo constantemente. Me aconselho muito com ele. Falo sempre com ele. Ele tem cinco filhas, e sempre me trata como uma delas. Nas negociações, eu sempre converso com ele, me consulto.
UOL: Como é esta relação com o Luis Alvaro e quais são os principais conselhos que você recebe dele?
PA: O Santos tem alguns mecanismos que o Flamengo deveria copiar, como o conselho consultivo. As decisões lá são colegiadas. Isto é fundamental. O clube reúne os melhores de cada área e decide o que é melhor. Aqui é tudo ao contrário. O Flamengo se mata nos bastidores para resolver alguma coisa. E o estatuto contribui para isso. É velho, engessado e eu pretendo mudar isso. Quero um novo formato, com conselho consultivo, pessoas que blindem o clube e te ajudem, sem interesses políticos. É isso que quero para a próxima gestão. Em momentos críticos, esta divisão de pensamentos ajuda.
UOL: Você hoje tem ideias para o próximo mandato e está em campanha. Mas chegou a pensar se valeria se candidatar novamente. Por que quase desistiu?
PA: O desgaste é muito grande. Estou acostumada com essa pressão, mas é muito difícil suportá-la, cumprir uma rotina alucinante e ver que ninguém respeita isso. A opinião pública não quer ver essas coisas e me ataca de graça. A realidade não é o ataque que venho sofrendo. O clube está muito bem. As pessoas ficam sentadas em computador, disparando campanhas em redes sociais, mas não sabem o que se passa. E isso me cansou.
UOL: E com tanto desgaste, como relaxar? O que fazer fora do clube para manter a cabeça tranquila e ter uma vida saudável?
PA: Olha… (Patricia para por alguns segundos) Nem sempre eu consigo. É muito difícil. Tem horas que não aguento. São traições, facadas. E ainda tem o problema de chegar em casa e cuidar de quatro filhos e marido. Já tive várias fases e tentativas para superar isso, mas sempre com complicações. Já tentei ler para acalmar, escrever, tomar remédios. Nunca tinha tomado nem refrigerante, mas teve época que bebi algumas coisas.
UOL: E quando foi essa fase dos remédios?
PA: O início deste ano foi complicado, o episódio Ronaldinho me chateou, mas o que tirou mesmo o meu sono e me fez tomar remédio foi a saída do Vanderlei. Mandei ele embora chorando. Fiquei muito preocupada. Foi uma fase horrível, uma pressão enorme. Quase não dormia, e só conseguia com remédio. Ele matava os problemas no peito, resolvia e as coisas não chegavam em mim. E eu senti muito essa saída. Mesmo com a chegada do Joel e a contratação do Zinho, eu tomei muita pancada. O Zinho tinha muita boa vontade, mas era novo no cargo, não tinha a experiência do Luxemburgo e deixava algumas coisas chegarem a mim. Eu passei a sentir uma pressão externa muito grande. Com o Vanderlei, eu não tinha isso. Foi o pior período.
UOL: E agora, está mais tranquila?
PA: Não. É tudo muito conturbado. Emagreci muito, tenho medo de fazer exames médicos e descobrir algo nos resultado. O estresse acaba comigo. Até dentro de casa eu sofro pressão. Marido e os quatro filhos só querem falar de Flamengo. É assustadora essa situação. Nem uma volta tranquila no shopping eu consigo mais. Eu não tenho lazer e sinto falta disso. Quando acende a luz vermelha, eu pego minha sobrinha e vou ao cinema. Ela que me ajuda, é meu refúgio. Pego a Gabriela (Amorim, de 20 anos, sobrinha) no domingo, na última sessão, prendo o cabelo, coloco um óculos e vou embora. Eu não consigo nem ir ao salão direito. Queria ir mais vezes. Chego lá e as pessoas só falam de eleição, Flamengo. Por isso pego a Gabi e vou pro cinema. Lá é escuro e ninguém me vê. Tento me divertir um pouco e conversar com ela sobre outros assuntos. E ela que me ajuda em vários outros aspectos, fica com meus filhos, estuda com eles.
UOL: E encerrando esse lado mãe, família, como cuidar do “filho” Adriano?
PA: Nem gosto de falar desse jeito, o chamando de filho, senão vão me chamar de paternalista. Eu apenas faço com ele o que sempre procuro fazer com todos os ídolos que escreveram nossa história: dar apoio. (Patricia para e reflete antes de continuar) Mas está chegando um momento decisivo. Às vezes, me sinto impotente. Queria ajudar mais. São muitos problemas. Precisamos resolver isso. Faço tudo o que posso, mas existe um limite. E quem vai decidir essas coisas (limite) é o Zinho. Ele que está perto e vai dar a palavra final.

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