segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Entrevista exclusiva com Wallim Vasconcellos: ‘Vamos trazer uma super estrela para o Brasileiro’

Por Espn Brasil - Postado por Abraao Na Rede

Nome inicial para comandar a Chapa Azul na eleição rubro-negra, Wallim Vasconcellos teve sua candidatura impugnada pelo Conselho de Administração do clube e deu lugar a Eduardo Bandeira de Mello. Seria, então, diretor-geral do clube, mas recusou o cargo por não desejar ser remunerado. Convidado a assumir a vice-presidência de futebol, Wallim parece ter encontrado o seu lugar. Ainda sem ser empossado, o dirigente trabalha nos bastidores para reforçar a equipe já no Campeonato Carioca. Não será o time ideal, reconhece. Mas para o Campeonato Brasileiro, Wallim garante que o time entrará para ganhar e terá uma “super estrela”.
Entre um pedido e outro dos filhos para aproveitar o mínimo tempo livre, Wallim Vasconcellos concedeu, por telefone, esta entrevista exclusiva ao ESPN.com.br. No papo, o futuro vice-presidente de futebol do clube explicou suas ideias para o departamento mais importante do Flamengo, o funcionamento do conselho gestor do futebol, a engenharia necessária para trazer um grande craque e ressaltou a nova fase de profissionalismo a ser implantada com a participação ativa dos jogadores.
“Não tem mais lugar para amadorismo aqui. Se alguém não concordar, a gente entende, mas no Flamengo não terá mais espaço”, avisa Wallim Vasconcellos.
Confira a entrevista abaixo
Como estão sendo esses primeiros dias de ação como vice de futebol, mas ainda sem assumir oficialmente?
Primeiro tem de organizar o departamento, a reapresentação é dia 3 de janeiro e a gente tem de correr para organizar a vice-presidência, fazer contratações para ter um time já competitivo. Não é tarefa fácil sem você estar empossado como vice de futebol. As pessoas que estão lá com a Patricia não têm criado nenhum obstáculo, nenhum empecilho. O primeiro passo foi contratar o Pelaipe, uma pessoa com muita experiência. O segundo foi conversar com o Dorival e com o Zinho para a gente saber como estava a situação do elenco, quem eles gostariam de contar para o ano que vem, quais as posições carentes podemos tentar contratar. Estamos o dia inteiro no telefone negociando. Não vai ser o time dos sonhos no Carioca, mas queremos um time com possibilidade de ganhar. No Brasileiro…aí sim temos de montar um time para ganhar e ser muito competitivo.
Quais as dificuldades encontradas?
Estamos sofrendo bastante com essas penhoras. O dinheiro vai entrar na conta e a penhora já vem em cima. Nossa equipe de finanças já teve de entrar em campo. Na sexta, eles conseguiram pagar parte dos salários de novembro e do 13º. Fiquei muito feliz com essa notícia de salário, dos atletas, dos funcionários. Ninguém tem culpa. Vamos trabalhar junto aos credores para chegar a um acordo, equacionar de uma maneira com que o Flamengo possa pagar e honrar esses compromissos. O que mais ouvimos sobre o porquê dessas penhoras é que o Flamengo sempre faz o equacionamento da dívida e não cumpre. Temos certeza que vamos trazer credibilidade, mudar a imagem que o clube tem hoje. Vai ajudar não só o futebol, mas o clube como todo. Temos a contratação do Marcelo Corrêa, novo diretor geral, vai ajudar muito. Vamos ter um Flamengo diferente.
Você, aliás, seria presidente. Depois de ser impugnado, assumiria o cargo de diretor-geral e declinou. Agora é vice de futebol. Como foi se preparar para esta função diante de tantas mudanças?
A gente é um time. Um dia eu posso estar na ponta esquerda, faltou um lateral e vamos jogar lá. Temos boa experiência profissional na vida. Eu não me sentiria confortável para essa função do Pelaipe, por exemplo. Mas como vice de futebol não vejo nenhum problema. Entendo razoavelmente de futebol. Ele conhece todo mundo do ramo, conhece informações, quem são os empresários sérios, quais não são, como organizar o departamento de futebol. Toda parte que ele me diz e me sugere eu aprovo sem problemas. Então sendo presidente, diretor-geral, vice de finanças…qualquer um consegue estar nessa posição sendo compentente. O presidente Eduardo imediatamente me convidou para essa função. A gente vai cada um ajudando o outro em qualquer etapa. Eu posso ajudar o Bap (Luiz Eduardo Baptista, futuro vice de marketing) apresentando um presidente de empresa, posso ajudar o Rodrigo Tostes montando operação para trazer dinheiro para o clube. O nosso discurso desde começo é que a candidatura não era de uma pessoa. Somos um time.
Quais as condições do departamento de futebol encontrado por você e por Paulo Pelaipe?
Pedi para o Pelaipe fazer uma avaliação da estrutura organizacional e dos profisisonais. Ele me retornou e disse que está bem estruturado, com pessoas qualificadas e o que a gente precisa é mostrar para todos que há uma nova filosofia, que a meritocracia vai prevalecer. Todos vão ser remunerados por alcance de objetivo. Têm de estar comprometidos. Se o jogador faltar, não se comprometer, vai ser cobrado pelo próprio grupo. Eles têm de saber que quanto mais o Flamengo ganhar, mais o patrocinador ganha também e, consequentemente, eles. A gente quer implementar uma nova filosofia em relação às atividades de futebol. O clube também tem de cumprir com as suas obrigações, no dia combinado, para que os atletas possam estar comprometidos. Disciplina dentro e fora do campo, postura, em relação a patrocinador, televisão. Eles têm de cumprir as regras.
Em relação ao regime de profissionalismo prometido, o futebol será um dos principais afetados. Os jogadores serão cobrados a participar de campanhas de marketing, conceder entrevistas com frequência, por exemplo?
Vamos implantar isso. Todos vão saber: as regras do jogo são essas. Quem tiver interesse, será bem-vindo. Quem não tiver, é até melhor e transparente que diga que não quer continuar. A gente entende, mas no Flamengo não vai ter espaço. A gente precisa, entre aspas, educar todo mundo. Se cumprirem o que está estabelecido com a fornecedora de material esportivo ou com a empresa que tem o direitos de transmissão, todos vão ganhar. Se não cumprir, o clube e os atletas saem prejudicados. Não tem mais lugar para amadorismo aqui. A relação com os patrocinadores e todos envolvidos com o futebol…temos de cumprir o que foi acordado. Se todos fizerem isso, a gente vai sair ganhando.
Por quê a opção por Paulo Pelaipe para ser o diretor-executivo de futebol?
Entrevistamos outros profissionais e prefiro não dizer os nomes por uma questão de ética. O Pelaipe não foi escolhido porque foi muito melhor. Os outros eram qualificados. Mas pesou a experiência dele. O perfil dele para esse momento do Flamengo. A escolha foi basicamente pelo perfil do Pelaipe. O início dele tem sido muito bom. Ele tem uma longa experiência, é uma pessoa muito afável, muito direta. A gente não pode falar de uma linguagem com rodeios, tem de ser objetivo. Ele não é de dar contornos, vai direto ao ponto.
Há expectativa para que o Zinho continue no Flamengo, ainda que em outro cargo?
Zinho me ligou na sexta, ele teve um problema de saúde com um membro da família e também com o celular dele. Ele me ligou, entendi perfeitamente. Disse que vamos olhar para frente, isso aí já passou. Conversamos, ele está de acordo com o projeto, mas a questão financeira ele ainda está estudando. Pedi que até o dia da posse, 27 de dezembro, gostaria de ter uma resposta. Ele agradeceu e ficou de me retornar. Se ele aceitar, será muito bem-vindo. É torcedor do clube, fez um bom trabalho, segurou uma barra pesada e já tem aprovação do Pelaipe. Se não continuar, vamos em buscar um outro nome para a função.
E quais são as primeiras impressões sobre o Dorival Júnior?
Dorival é um dos top de linha que temos no mercado brasileiro. Além disso, é um excelente caráter pelo que eu pude ter de contato com ele. É vitorioso, é o que a gente precisa no Flamengo. Vai estar conosco ao menos até o fim do contrato. Esperamos renovar com ele depois de 2013. Ele gostou do projeto, está empolgado. Temos carências no elenco e falamos que vamos supri-las. Mas o mercado é complicado, temos de ter paciência. São jogadores oferecidos por preços exorbitantes e não vamos pagar loucuras. A gente quer resgatar o orgulho de o jogador vestir a camisa do Flamengo. Não queremos esse negócio de não querer vir para o Flamengo.
Como o mercado do futebol tem recebido a nova diretoria do Flamengo?
O mercado está recebendo muito bem, já que temos vários atletas interessados em jogar pelo clube. Eles já viram que mudanças vão ser feitas. Estão apostando nisso, principalmente pelas pessoas atrás do projetos. Temos uma receptividade muito boa dos atletas, dos procuradores. Você tem uma competição no mercado por alguns atletas, claro. Mas tentamos chegar em um acordo. Entrou em leilão, a gente está fora. Ou o atleta tem orgulho em vestir a camisa do Flamengo ou a gente parte para outra. Temos uma gama de atletas que estamos contactando. Obviamente não vamos contratar dois times. Mas temos posições carentes, Dorival indicou alguns atletas. Vamos fazer isso para o Campeonato Carioca. Depois, para o Brasileiro, vamos ter mais uns três meses para trabalhar um atleta de ponta.
Você já recebeu da gestão passada negociações em andamento? Há conversas em curso com o Robinho?
O Renato Augusto foi passado, não sei se tinha chegado a começar. Essa foi a única negociação. Em relação ao Robinho, não tem nenhuma negociação com o Milan. Não abrimos negociação. Nem sabia da informação de que o Galliani está vindo ao Brasil. O que a gente soube pelos jornais é uma declaração de que o Robinho gostaria de jogar no Flamengo. Se for um valor que o clube pudesse pagar claro que qualquer time do mundo se interessaria por ele. Mas posso garantir que até hoje, 22 de dezembro, não falamos com o Milan e nem com o estafe do jogador.
O Flamengo vai trabalhar para ter um jogador de grande porte, como o próprio Robinho?
Quando você quer ter um craque desses, envolve muito dinheiro. Precisa-se de parcerias. Se você já contrata sem isso, já saiu enfraquecido porque é um problema, entre aspas, só seu. Não podemos entrar no mesmo erro do Ronaldinho. Temos de montar um plano, acertar com o jogador, com o clube, ir a três empresas, dizer que temos um jogador top de linha e que precisamos das diferenças, de algumas condições. Já mapeamos algumas empresas que se manifestaram para participar dessa ação. Precisamos primeiro entender quais são os valores que estariam envolvidos, quanto o clube do tal jogador gostaria de receber para a gente montar um projeto. Não é coisa rápida. Se não conseguirmos para o Carioca, para o Brasileiro vamos ter tempo. Nesse período de férias é difícil achar as pessoas nas empresas. Se eu pudesse trazer duas super estrelas já para o Carioca, seria maravilhoso. Temos de fazer a coisa da maneira correta. Tudo que é feito de maneira atropelada, paga-se caro e você fica apertado. A torcida pode ter certeza que vamos trazer uma super estrela para o Brasileiro.
Mas o clube, diante dessas dificuldades financeiras, tem condição de trazer uma estrela?
Não dá ainda para o Messi (risos). A gente espera que daqui uns três anos, quatro anos o Flamengo possa ter recursos para trazer quem quiser. Quem tem uma torcida dessa, traz Messi, traz o que for. Não tem limites para a torcida do Flamengo. Aos poucos a gente vai chegar lá. Em 95 trouxe o Romário depois de ser o melhor do mundo. Nós conseguimos.
Em relação ao Ninho do Urubu, como a nova gestão pretende administrá-lo?
A gente obviamente tem o CT como uma das prioridades. Temos de terminá-lo. Está bastante adiantado, foi um dos pontos fortes da última gestão. Tanto que o Alexandre Wrobel continua como vice de patrimônio. É uma pessoa competente, qualificada e conhece de um tudo daquilo lá. Ele já passou para a gente o que precisa. Tem investimentos de curtíssimo prazo que precisamos para amanhã. Wrobel pode dizer mais corretamente, mas pela conversa que tivemos, ele me disse que para terminar uma fase precisamos de uns R$ 4 milhões. Para terminar tudo, o projeto inteiro seriam de uns R$ 11 milhões a R$ 15 milhões para colocar o projeto. R$ 4 milhões para o Flamengo não é nada, mas R$ 15 milhões já fica mais complicado. Vamos estudar como fazer isso.
A Gávea ainda vai receber treinos do futebol profissional?
Vamos fazer assim: durante a semana será no Ninho do Urubu, com acesso restrito. Só atletas e comissão técnica. Ninguém mais entra lá. No clube serão só os sócios e pessoas ligadas ao futebol. Antes dos jogos vamos fazer um último treino na Gávea porque a gente acha que é muito importante ter essa proximidade com a torcida. Queremos, no treinamento que antecede os jogos, fazer um apronto na Gávea.
Qual a meta do futebol rubro-negro em 2013 e, depois, ao longo do triênio?
No Brasileiro de 2013 a meta é ganhar. Mas a Libertdores, com certeza, temos de voltar em 2014. Vamos montar um time e uma estrutura para isso.
O CSKA manifestou interesse em ter de volta o Vagner Love. Já foi informado sobre essa situação ou conversou com os representantes do jogador?
A gente não sabe ainda a posição financeira da dívida, da situação, o que se deve, para qual clube. Estamos pegando pé disso agora. Não fomos contactados pelo empresário nem pelo clube. Talvez quando assumirmos eles falem conosco. Estamos levantando todas as dívidas e os direitos a receber também. Deve ter algum atleta que emprestamos e não recebemos, por exemplo. Estamos vendo o que fazer com cada atleta. Vamos procurar o atleta para ver se ele quer permanecer. No caso do Love temos o maior interesse que ele fique. Mas de novo: se ele não quiser ficar, temos de chegar a um acordo. Nosso interesse é que ele fique, todos gostam dele e parece que ele disse que gostaria de ficar também. Vamos sentar com o CSKA, saber da nossa dívida, do parcelamento e chegar a um acerto para que isso continue sendo feito.
Como funcionará o conselho gestor do futebol?
Falei para o Pelaipe que não precisa me ligar todo dia, por exemplo. Ele tem total autonomia. O conselho gestor é para assuntos relevantes. Vou trazer uma super estrela aqui, aí sentamos para conversar. Tudo que for relativo ao futebol e relevante, vamos levar para o comitê opinar e a gente decidir o que fazer. Se houve um problema grave, a gente soluciona, busca alternativas. Ou então: quero fazer um time B do Flamengo para jogar em Mato Grosso. Vamos discutir se é bom, ruim. São projetos especiais que fogem do dia a dia.
Qual a importância do trabalho conjunto dos departamentos de futebol e marketing?
É fundamental. É muito gratificante a gente ter uma relação com a vice-presidência de marketing. O Bap é experiente, criativo, precisamos de tudo isso para trazer investidores. Não só com o Bap, mas já estamos discutindo com a vice-presidência de finanças para trazer recursos, a área jurídica com o Flávio Willeman, com modelo de contrato de atletas. A gente tem de ver porque o Flamengo perde tanta causa trabalhista, porque é tão acionado. Temos de rever os contratos dos atletas. Esse trabalho com a área jurídica vai ser fundamental. São todas pessoas do bem. O resultado é sempre bom.
Após o caso do goleiro Bruno, a gestão de Patricia Amorim incluiu nos contratos uma “cláusula de bom comportamento”. Isso vai continuar?
Certamente que sim. Mas tem de ver se essa cláusula tem eficácia. Eu não li um contrato ainda. Se simplesmente colocou que brigou na rua e está rescindido o contrato, como executar uma cláusula dessas? Uma coisa é brigar na rua, outra coisa é você roubar. Foi pego roubando um anel numa joalheira, por exemplo. As duas ferem o direito de imagem? Temos de ver se a pena leve e grave têm o mesmo evento. Se eu exercer essa cláusula sem estar bem eficaz, o atleta pode processar o clube. Se o Flamengo puder exercer essa cláusula, a tendência é que o clube ganhe. Vamos deixar os contratos claros. Se tiver de transformar um contrato de 40 páginas em um de 80 páginas, vamos transformar.

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