segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Vaias, ofensas, derrota: o dia em que Ronaldinho voltou ao Olímpico

Dez anos depois de deixar o Grêmio, jogador vive dia histórico ao retornar para o estádio onde foi criado

Por Globo Esporte.com - Postado por Abraao Na Rede

Enquanto Roberto Assis treinava no Olímpico, lá pelo final dos anos 80, o irmão dele, ainda criança, com o corpo magricela e a boca já com dentes que cresciam em diagonal, ficava brincando de jogar bola pelos campos do estádio. Para alguém tão novo, era impressionante o trato que o guri dava à esfera de couro. “Ele vai ser melhor do que eu”, dizia Assis. Passados dez anos, o moleque dentuço começava a se apresentar como um dos maiores craques
já formados pelo Grêmio. Passados mais de 20 anos, ele voltava àquele estádio onde tanto brincou. E entrava nele pelo vestiário dos fundos.

O retorno de Ronaldinho Gaúcho ao Olímpico foi um daqueles episódios que não se repetem. Neste domingo, o craque do Flamengo sentiu toda a ira de uma torcida que se sentiu traída, perdoou e voltou a se envenenar por aquilo que considerou nova facada no distintivo. Se a saída do jogador para o Paris Saint-Germain, no início da década passada, machucou, a ida ao Rio, em 2011, doeu ainda mais. Toda a decepção explodiu neste domingo,
em vaias, ofensas, críticas. E em vitória sobre o desafeto.

Ronaldinho chegou a Porto Alegre no sábado. No aeroporto, foi ignorado pelos gremistas. Mas no caminho até o hotel, caso tenha olhado pela janela do ônibus que o transportou até um hotel no centro da cidade onde ele nasceu, o jogador viu pichações contra ele. Antes de subir para seu quarto, sorridente, R10 desejou uma boa tarde a quem tentou entrevistá-lo. Um dia depois, ele teria uma péssima tarde.

Ronaldinho

A torcida do Grêmio se mobilizou como raras vezes se viu. No início
da tarde, torcedores já circulavam aos montes pelo Olímpico. E já apareciam munidos de faixas contra Ronaldinho. E já distribuíam cédulas falsas de 100 reais, com o rosto do jogador impresso. Parecia uma competição, com um torcedor querendo superar o outro no tamanho da manifestação contra o atleta. A polícia coibiu parte do material. Mesmo assim, muitos conseguiram driblar os olhos dos homens de farda. Dentro do estádio, exibiram mensagens chamando R10 de pilantra e mercenário – entre outros recados que chegaram a envolver familiares dele.

Conforme passava o tempo, crescia a expectativa pelo aparecimento de Ronaldinho no Olímpico.
Mais de uma hora antes da partida, ele chegou. E foi recebido por uma chuva de moedas. Minutos depois, teve seu nome anunciado pelo sistema de som do Olímpico. A imagem do jogador no telão rendeu uma vaia talvez sem igual na história de um estádio que será demolido nos próximos anos, provavelmente sem tempo de escutar algo igual.

E aí chegou a hora de Ronaldinho ir a campo. Quando ele pisou no gramado, gremistas arremessaram as cédulas falsas nele. E soltaram gritos de “pilantra”. E soltaram berros de “mercenário”. O craque cumprimentou funcionários do Grêmio, remanescentes dos tempos
em que ele vestia tricolor. Quando se posicionou para escutar o hino nacional, só ouviu xingamentos. No hino gaúcho, cantou junto.

Torcida do Grêmio

A bola haveria de rolar, depois de tanta expectativa. Quando aconteceu, parecia que Ronaldinho estava jogando apenas mais uma partida em sua vida, tamanha a naturalidade do craque. Com três minutos, ele já cobrou uma falta na trave. Pouco depois, deixou Deivid na cara do gol. Mas, aos poucos, foi caindo de rendimento. Não foi ativo nos dois gols que colocaram o Flamengo na frente. E viu, lance a gol,
a vitória se transformar em decepção. O Grêmio descontou. E depois empatou. E depois virou. E venceu. Ronaldinho Gaúcho, no retorno ao Olímpico, levou 4 a 2 de seu ex-clube. Ainda recebeu um cartão amarelo, comemorado pelos tricolores como se fosse gol.

A certeza da vitória permitiu que os gremistas passassem os minutos finais do jogo provocando ainda mais Ronaldinho. Aos gritos de “pilantra”, ele deixou o campo. E retribuiu, com uma ironia, toda a animosidade que o cercou.

- Se comparar com a torcida do Flamengo, isso não é muito barulho, não – disse ele.

Ronaldinho
saiu rápido do vestiário dos visitantes para o ônibus. Escapuliu por uma porta lateral. Enquanto isso, do outro lado do estádio, o Grêmio comemorava a vitória. E Paulo Odone, o presidente que tentou contratar o jogador em janeiro, respondia a ele.

- Não deve ser bom chegar na sua cidade, no clube onde se criou desde pequeno, e ser tão rejeitado. Não deve ser bom...

Os gremistas não vivem um ano dos melhores. A decepção de janeiro, com Ronaldinho, se somou à queda prematura na Libertadores, à perda do Gauchão para o Inter dentro de casa, à despedida
de Renato Gaúcho. Mas quando terminar o ano, naqueles dias de retrospectiva, pelo menos uma alegria eles poderão dizer que tiveram. Em 30 de outubro, um domingo de sol, eles se sentiram vingados.

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