segunda-feira, 9 de maio de 2011

O Mistério dos 3 Cones

Por Arthur Muhlenberg - Postado por Abraao Na Rede

Me perdoem aqueles que já ouviram essa estória antes, mas é importante que todos tomem ciência dos antecedentes do caso para poderem entender o que mais adiante vou explanar. Para tal, utilizemos a lírica de Millôr Fernandes como se fosse prosa.

Às folhas tantas do livro matemático um Quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma Incógnita. Olhou-a com seu olhar inumerável ele viu-a do ápice à base uma figura ímpar; olhos rombóides, boca trapezóide, corpo retangular, seios esferóides. Fez de sua uma vida paralela à dela até que se encontraram no infinito.

“Quem és tu?”, indagou ele em ânsia radical. “Sou a soma do quadrado dos catetos. Mas pode me chamar de Hipotenusa.” E de falarem descobriram que eram (o que em aritmética corresponde a almas irmãs) primos entre si.

E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz numa sexta potenciação traçando ao sabor do momento e da paixão retas, curvas, círculos e linhas sinodais nos jardins da quarta dimensão.

Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas e os exegetas do Universo Finito. Romperam convenções newtonianas e pitagóricas. E enfim resolveram se casar constituir um lar, mais que um lar, um perpendicular.

Convidaram para padrinhos o Poliedro e a Bissetriz. E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro sonhando com uma felicidade integral e diferencial. E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos.

[...]

Interrompo aqui a Poesia Matemática porque é sobre os meninos de dona Hipotenusa que eu quero falar. Quem já sabe que só escrevo besteira e quiser fazer algo mais útil pode ler o resto do poema clicando nesse link. Volte sempre.

Atualmente esses cones de boa família cresceram e caíram no mundo para exercer suas profissões e ganhar seu sustento. Por incrível coincidência os três estão não apenas contratados por uma boa grana, mas jogando no sempre amado, mais cotado e nunca imitado Clube de Regatas do Flamengo. Pior, não estão apenas jogando, são titulares do Fuderoso onze da Gávea, para espanto da gatomestragem mundial e total desespero da mulambada mais bem vestida do Brasil.

Se estivéssemos apenas entre amigos nem precisaria dizer o nome dos sólidos geométricos que povoam os pesadelos táticos da rubro-negrada. Mas como o Urublog é injustificadamente muito visitado pela arcoirizada mal vestida, que entre outros defeitos incuráveis defende o analfabetismo como forma de vida, é melhor dar nome aos bois.

As figurinhas geométricas a que me refiro foram batizados pelo adorável casal Poliedro e Bissetriz (eu disse Bissetriz) como Deivid, Wellinton e Rodrigo Alvim. Nomes que demonstram uma peculiar forma de lidar com a antroponímia da língua inglesa por parte da família.

Até um ignorante nas artes do futebol como eu percebe a inadequação dos caras ao cargo que estão ocupando. O trio parada dura já está há muito tempo marcado pela torcida, que já não admite as suas escalações. Talvez porque em campo os três são ignorados pelos adversários, sejam beques, atacantes e até mesmo a bola, com quem é evidente que os três estão de relações cortadas.

Mesmo assim, são prestigiados por Luxemburgo e seguem tendo todas as oportunidades que são negadas à outros integrantes do nosso elenco. Um mistério que desafia a ciência.

O Wellinton, por exemplo, entra e sai do time desde 2008. Nas seleções de base era titular, líder de grupo e tals. Mas no Flamengo só dá susto e não soube como conquistar a confiança de ninguém. Não tinha mesmo como, me lembro bastante bem que durante o Brasileiro 2010 ele sempre esteve nos B.O.s de todos os gols que o Flamengo levou.

Mas a confiança do Luxemburgo ele misteriosamente conseguiu, porque o treinador tá há quase um ano no Flamengo e ainda não encomendou um zagueiro. Nem mesmo pra ser reserva, ocupada exclusivamente pelo semi-aposentado Angelim. Por isso, mesmo fazendo cagadas homéricas, Wellinton continua no time.

Deivid é aquele caso triste de bom jogador que está mal. Durante anos o seu nome foi citado como solução para a nossa nhaca recorrente de ataque inoperante. Solução impossível, melhor dizendo, porque Deivid sempre estava muito bem no exterior, era ídolo, o Flamengo não tinha dinheiro e todo aquele blá-blá-blá justificativo pra nossa incapacidade.

Deivid veio no meio do Brasileiro passado pra ser salvador da pátria e substituir Adriano. Não foi nem um e nem outro. Jogador com nome e provavelmente alto salario, Deivid no Flamengo não lembra em nada o atacante dos tempos de Santos, Cruzeiro, Corinthians e Fenerbahçe. Com apenas 10 gols marcados em 36 jogos, Deivid tem conseguido estabelecer no Flamengo a sua pior média da carreira.

Mesmo dando umas passadinhas rápidas pelo banco, que parecem ser uma forma encontrada por Luxemburgo de protege-lo da ira da torcida e preservar o patrimônio do clube, Deivid é o titular do nosso ataque sem qualquer merecimento. Tudo bem que fisicamente ele não dá show, já não é mais garoto, mas tecnicamente tem sido uma decepção. É deprimente, um jogador do nível dele muitas vezes não consegue matar uma bola. Seus passes errados então, levam a torcida à loucura.

E no caso do Deivid, ao contrário do caso do Wellinton, Luxemburgo tem opções no banco. Diego Maurício, Negueba e Wanderley tem suas deficiências, mas tem mostrado muito mais disposição e fome de bola do que o nosso camisa 9. Aliás, se eu soubesse quantos gols fez e quantos jogos jogou o Wanderley provavelmente diria que a sua média é absurda quando comparada à do Deivid.

Dizem que tem uns malucos aí do Santos e do Chorinthians (tradicional comprador de artigos de segunda mão e refugos da Gávea) que querem levar o Deivid. Esse pra mim já era. É evidente que sentiu o peso do Manto. O mistério aqui é por que o Flamengo ainda não mandou entregar Deivid a domicílio.

O mistério do Rodrigo Alvim é o mais difícil de explicar. Há mais de um ano no Flamengo o cara ainda não conseguiu sequer uma atuação razoável. Seus cruzamentos certos nesse intervalo de tempo foram tão poucos que até o Lula consegue contar nos dedos de uma só mão. Tudo bem que a opção é o horroroso Egídio, em má fase desde, deixa eu ver… em má fase desde que inventou essa maluquice de ser jogador de futebol, mas Rodrigo Alvim tem sido dose pra elefante.

A opinião da torcida é unânime, com Alvim no time o Flamengo tem jogado sem lateral esquerdo. Isso é muito ruim por um lado, mas é um pouco bom por outro. Morro de rir quando vejo flamenguistas que espumavam e queriam matar o Juan e hoje declaram sentir saudades do Marrentinho. É, como dizem os mal vestidos quando leem aqui no Urublog algo que não lhes agrada, a língua é o chicote da bunda. Zoaram tanto o Juan e agora temos que aturar certos uns e outros que chamam a bola de sua excelentíssima. Vida dura essa de corneteiro.

Resumindo, porque o Flamengo nem joga hoje e já fiquei de mau humor só de escrever sobre esses malas. Pro Flamengo poder jogar um Brasileiro com algum traço de decência é fundamental trazer da feira um beque, um atacante e um lateral esquerdo. E tem que ser logo, professor Luxemburgo, porque não se sabe até quando o bom clima na Gávea vai resistir aos poderes deletérios dos 3 cones. E quando o clima na Gávea não está bom já sabemos de quem é a primeira cabeça a rodar.

Mengão Sempre

Nenhum comentário: