Em clássico tenso e cheio de erros, Rubro-Negro supera o rival no forte calor do ginásio do Tijuca e se iguala ao Pinheiros, que lidera pelo confronto direto
Teichmann passa pela marcação e consegue uma
Para um ginásio que o Flamengo chama de caldeirão, a temperatura devia estar muito perto do ponto de fervura. Enquanto o sol castigava os cariocas – os que não foram à praia, claro – em plena hora do almoço no domingo, o Rubro-Negro abria as portas do Tijuca Tênis Clube para o clássico de maior rivalidade no basquete nacional. Do outro lado da quadra estava o Brasília, com prestígio de líder do NBB. Da beleza técnica, ninguém pôde se orgulhar. Em jogo tenso do início ao fim, repleto de erros e precipitações, riu por último quem manteve o controle. O Flamengo aproveitou o desequilíbrio do adversário no segundo tempo para deslanchar e cravar a vitória por 93 a 80. Mais que o sabor de cozinhar os arquirrivais, o resultado vale o retorno à parte de cima da tabela, a duas rodadas do fim da primeira fase.
O Flamengo tem agora 19 vitórias em 26 jogos, mesma campanha do Pinheiros, que leva vantagem no confronto direto e por isso é o líder de fato. Os dois próximos jogos serão na estrada, contra São José e Limeira. Se tivesse vencido por um ponto a mais, o clube carioca teria vantagem no confronto direto com o Brasília – cada um ganhou uma, mas o saldo favorece a equipe da capital. Os atuais campeões do NBB só jogam mais uma vez, em casa, contra Joinville, e precisam torcer muito por tropeços dos concorrentes se quiserem terminar o campeonato no alto da classificação.
No duelo de 58 tiros de três, muitos deles precipitados, até os lances livres contaram com erros acima do normal. O Flamengo venceu com 27 pontos de Marcelinho, mais do que acostumado à tensão de enfrentar o Brasília.
- É uma rivalidade de muito tempo. O jogo teve ingredientes de playoffs, foi mérito das defesas. Sabíamos da importância desta vitória, e agora temos essa sequência fora de casa. É muito difícil. Mesmo faltando apenas duas rodadas, não dá para fazer previsões – comentou Marcelinho logo após a partida, quando o clima tenso já tinha se dissipado e seu filho Gustavo batia bola no garrafão.
O Brasília teve 29 pontos de Alex, único do time a manter a regularidade nos quatro períodos. Nezinho fez 16, mas cometeu oito desperdícios e falhou em lances bobos, tirando do sério o técnico José Carlos Vidal. Encharcado de suor, Alex foi até o banco e pegou uma toalha branca antes de falar sobre a missão de secar os rivais.
- Jogar neste ginásio, neste horário, com o calor do Rio, é muito difícil. Desgasta bastante. Cometemos erros nesta partida e em outras, poderíamos estar mais perto da liderança. Mas todo mundo ainda pode ser surpreendido. Vamos jogar em casa contra Joinville e esperar para ver – afirmou o ala-armador, perseguido pela torcida o tempo todo.
Marcelinho foi o segundo maior pontuador do clássico (Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo)
Em condições normais, o confronto seria na Arena da Barra, mas o show da banda Iron Maiden neste domingo forçou o Fla a mudar o palco do clássico. O calor implacável do Rio afugentou parte da torcida, que não chegou a lotar as arquibancadas do Tijuca. Mas o número era suficiente não só para brindar os jogadores do Brasília com os "elogios" de sempre como também para abafar o Hino Nacional cantando o do Flamengo por cima a plenos pulmões.
Quem também não compareceu, mas por outros motivos, foi a dupla de pivôs que deveria tomar conta dos garrafões. Do lado rubro-negro, Bábby sofreu uma lesão no ombro esquerdo e pode ficar até 20 dias parado. Pelo Brasília, Lucas Tischer, com um estiramento na panturrilha, também era desfalque.
Àquela altura, Pinheiros, Franca, Uberlândia, Bauru e Joinville já tinham vencido na rodada. Ou seja, quem perdesse no Rio ficaria numa enrascada na briga pela liderança.
Antes de a bola subir, foi respeitado um minuto de silêncio pela morte da mãe do pivô Átila dos Santos, do Fla – o único momento da tarde com decibéis reduzidos. Em seguida, Teichmann e Cipriano pularam para o tapinha inicial. Deu Cipriano, mas a bola caiu na mão de Duda, que partiu para a bandeja e levantou a torcida pela primeira vez.
O time da casa emplacou um início arrasador com 7 a 0, enquanto os visitantes erravam tudo e só pontuaram após três minutos, com Alex num chute de três. O Brasília chegou a cortar para 9 a 7, mas o Fla emendou sete pontos seguidos e abriu uma vantagem confortável.
Como de hábito no clássico, as duas equipes, nervosas, abusavam dos erros no ataque. O Flamengo ao menos aproveitava as brechas na defesa rival e se mantinha à frente. Chegou a abrir 13 pontos e virou o primeiro quarto vencendo por 20 a 12.
Na volta para o segundo período, mais um festival de falhas. Após um minuto e meio, com o placar ainda zerado, Alex tentou uma infiltração e foi ao chão, levando a mão à perna esquerda. Ficou quase um minuto caído e deixou a quadra mancando, com cara de dor, sob uma chuva de vaias.
A primeira cesta veio após dois minutos de bola quicando, com Nezinho, mas o Fla logo respondeu com duas bolas de três de Jefferson, cestinha da equipe no primeiro tempo com nove pontos. Mesmo sem Alex, o Brasília cortou a vantagem para dois. O ala voltou a quatro minutos do intervalo e viu o Fla abrir cinco outra vez. Antes do estouro do cronômetro, Duda quase acertou do meio da quadra. A torcida ficou com o grito engasgado, mas ao menos viu o time sair para o vestiário vencendo por 34 a 29 – placar baixo que ilustrava os erros.
Na volta para o terceiro período, Nezinho tentava manter o Brasília na briga, mas o Flamengo atacava com Hélio, Duda e Marcelinho. Assim abriu 11 pontos, e o jogo voltou a ficar ruim, cheio de precipitações nos dois lados da quadra. Os chutes eram basicamente de três, e foi preciso que Alex acertasse dois seguidos para enfim mexer no placar. A diferença caiu para meia dúzia, mas voltou para dez com uma cravada de Teichmann que levantou a torcida no ginásio. Logo depois, pulou para 12 com uma bandeja de Marcelinho, e àquela altura o clima era de festa total. Apesar de uma boa bola – de três, claro – de Rossi, os donos da casa venciam por 66 a 56 na virada para os últimos dez minutos, com direito a cesta de Teichmann no estouro do relógio.
O americano David Teague é marcado de perto por Rossi (Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo)
Depois de um minuto e meio com arremessos precipitados amassando o aro, o placar do último período se mexeu com um tiro de longe de Marcelinho. O Brasília cometia erros bobos no ataque, e os anfitriões aproveitavam para manter sua zona de conforto no placar. Livres ou marcados, os visitantes erravam tudo. Neste momento Vidal pediu tempo e nem permitiu que os atletas se sentassem. Com todos de pé, caprichou na bronca. Não adiantou muito.
O primeiro ponto do Brasília no último quarto só veio após quase quatro minutos, quando o Flamengo já liderava por 18. Nezinho, jogando muito mal, bateu boca com Wagner e passou a ser "homenageado" pelos gritos da torcida. O Rubro-Negro ainda conseguiu organizar um pouco seu esquema ofensivo, mas o clima ficou tenso, com faltas técnicas dos dois lados e muita reclamação com a arbitragem. Com o jogo truncado e ainda baseado quase exclusivamente nas bolas de longa distância, o cronômetro correu até o fim.
Ao Brasília, resta vencer sua última partida, contra Joinville, e secar os rivais. O Fla, que ainda joga duas vezes fora de casa, passa a ser o maior rival do Pinheiros na luta pela liderança. Ao fim do jogo, a torcida no Tijuca nem queria saber disso. Só pensava em saudar seus atletas no caldeirão. Sem trégua do calor, mas com a alma lavada.
Confira todos os resultados da rodada:
Joinville 102 x 57 Vila Velha
Franca 92 x 68 Assis
Bauru 95 x 73 Araraquara
Pinheiros 83 x 74 São José
Minas 62 x 96 Uberlândia
Paulistano 70 x 61 Limeira
Flamengo 93 x 80 Brasília
Nenhum comentário:
Postar um comentário