quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Liberdade Para Ser Flamengo

por Arthur Muhlenberg - Postado por: abraaonarede

Galera, ando pegadaço com umas paradas de trabalho, falta tempo pra escrever. Enquanto eu tento resolver minhas encrencas fique aí com o texto da minha coluna da edição número 4 da Revista do Flamengo. Apesar de terem sido escritas em maio parece que as mal traçadas ainda mantém alguma pertinência.


A extraordinária capilaridade da torcida do Flamengo é um dos maiores motivos de orgulho para aqueles que fecharam com o certo. A presença sempre marcante e ruidosa do torcedor rubro-negro em todas as camadas sociais, faixas etárias, níveis de escolaridade, potencial de consumo e até, a despeito do rubro-negrismo ser em si uma religião, entre os praticantes de todas as crenças e religiões, expande nosso peitoral e nos faz parecer ainda mais altos do que já somos. O rubro-negro anda por aí, seja no Brasil ou no exterior, com a certeza de que somos os maiores e que ninguém resiste aos encantos do Mengão. Podemos até não compreende-la, mas temos a consciência de que o Flamengo tem a mística e que ela é nossa!

Vejam que interessante o estereótipo que a arco-íris mal vestida, por pura inveja pela nossa popularidade, colou na gente logo que começamos a jogar bola: o time do povo. Não se iluda, time do povo foi o eufemismo que as elites encontraram para não ficar dizendo nos salões que o Flamengo era o time dos pobres, ou pior, o time dos pretos. Vocês acham que alguém se importou? Nós somos mesmo o time dos pobres, dos pretos, dos mulatos, dos amarelos, dos índios, das favelas e de quem mais quiser formar com a gente.

Com o urubu foi quase a mesma coisa, eles mandaram de lá como insulto e a gente matou no peito, baixou na terra e incorporou na maior. Com a gente não tem caô, na torcida do Flamengo não gruda nada que ela mesma não queira. Somos o time da favela, sim. Com um orgulho imenso disso.

E na medida em que o mundo vai ficando pequeno o Flamengo vai ficando cada vez maior. O radio já nos levava para todo o Brasil, a TV permitiu que esse Brasil rubro-negro se visse na telinha e descobrisse que no Rio, em Manaus ou no Pantanal os rubro-negros eram todos iguais. Agora vem a Internet e nos leva na velocidade do pensamento para todos os lugares do mundo. Talvez nem fosse preciso lançar mão da tecnologia, mas a expansão da torcida do Flamengo já se tornou incontrolável. É como se fosse uma força da natureza que tem vida própria e não necessita seguir nenhum modelo. Ela simplesmente é.

Por isso causa tanta estranheza a idéia meio doida e absolutamente xenofóbica dos torcedores de alguns times do Nordeste. Excessivamente incomodados com a presença cada vez maior dos torcedores do Flamengo nas suas bocadas estes amalucados torcedores pretendem através de campanhas toscamente planejadas e de péssimo gosto coibir a adoção do Flamengo como o time do coração de seus conterrâneos. Como se fosse possível controlar a paixão alheia sob a mira de um fuzil. Nem é preciso dizer que essa é uma luta que a sociedade, e até mesmo os próprios articuladores, já considera perdida. Os números confirmam a derrota dessa estupidez.

Mas é importante que se deixe bem claro que esse localismo fora de moda no Nordeste tem a mesma matriz do preconceito que o Flamengo enfrenta no Sudeste. Não tem nada a ver com monopólio cultural, super poderes da mídia ou outros desses bois-tatá modernos que esses cruzados erguem como se fossem o santo lenho. É o mesmíssimo velho preconceito contra o pobre, o negro, o despossuído. O preconceito contra o favelado no Rio é o mesmo que o tabaréu, o caipira, o caboclo e o matuto sofrem em outras regiões. E para simbolizar essa parcela tão vilipendiada e tão significativa da população brasileira não existe símbolo mais perfeito que o Flamengo.

Por isso mesmo somos muitos, e tenha certeza que amanhã seremos ainda mais. Lembre-se que o Sol nunca se põe em nossa Nação Rubro-Negra. Não permita que ninguém interfira no sagrado direito de escolher o objeto do seu devotamento, de rezar para o santo de sua fé, de torcer pelo Flamengo que bem desejar. Paixão não tem qualquer relação com a geografia.

Lute pela liberdade, seja Flamengo.

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