Clube portiguar ganhou o cenário nacional após eliminar o Vasco da Copa do Brasil, em 2005, com uma vitória por 3 a 0 em São Januário
Por Marcello Carrapito, RJ - Postado por Abraao Na RedeLiderado por Cícero Ramalho – na época com 40 anos e 11 quilos acima do peso -, atacante que, apesar de fugir do estereótipo típico de jogador de futebol – corpo sarado e barriga de tanquinho –, tem faro de artilheiro, o Leão do Oeste não só derrotou o Vasco por 3 a 0, no Rio de Janeiro, como eliminou o Gigante da Colina da Copa do Brasil daquele ano, avançando à inédita fase de quartas de final. Além da tradicional equipe carioca, o América-MG e o Vitória-BA também ficaram pelo meio do caminho ao cruzarem com a surpreendente equipe mossoroense.
- Fiz três gols naquela Copa do Brasil e dois contra o Vasco. Um quando nós empatamos em 2 a 2 no Nogueirão, na partida de ida, e outro nos 3 a 0, no Rio de Janeiro, na partida de volta. Foi um ano em que até então eu não era conhecido nacionalmente. Consegui essa façanha, pela Copa do Brasil, pelo Baraúnas. Até hoje ninguém esquece esse 20 de abril de 2005. O torcedor sente saudades e ainda quer que eu jogue – afirmou Cícero Ramalho, hoje com 46 anos e aguardando proposta de algum clube para ser treinador desde que deixou o Corinthians de Caicó.
Cícero Ramalho está na história do Baraúnas
Naquela época, o Vasco era treinado por Joel Santana e tinha em seu ataque nada mais nada menos que Romário, sendo municiado pelo pantaneiro Alex Dias. Por conta de seus gols sobre o Gigante da Colina, aliando oportunismo e senso de colocação na grande área, Cícero chegou a ser comparado a certo baixinho e artilheiro...
- Quando ainda jogava pelo Ferroviário, do Ceará, em 94, tinha um repórter, o Faustino
Chaves, que me já chamava assim, de Cícero Romário – pela minha idade e pelos gols. Primeiro porque eu sou baixinho mesmo e fazia muitos gols, e segundo pela idade, porque já não tinha muita mobilidade, mas a bola sempre me procurava na área. Depois, quando a gente eliminou o Vasco – eu já estava no Baraúnas –, ficou mais conhecido. Caiu bem esse apelido – contou Ramalho, sem falsa modéstia, que em novembro de 2010 lançou um livro chamado “Cícero Ramalho, o artilheiro de Mossoró”, escrito pelo pesquisador Marcelo Migueres.
O veterano chegou a pendurar as chuteiras em 2002. Foi treinador por dois anos, dirigindo o próprio Baraúnas e o Quixadá, do Ceará. No entanto, voltou aos gramados em 2004 para fazer história.
- Parei de jogar porque estava desmotivado, o Baraúnas também passava por dificuldades. Mas o clube se organizou e eu me animei de novo. Fiz a coisa certa – concluiu.
Estrutura do clube é graças à campanha na Copa do Brasil de 2005
As quartas de final foram o limite para o modesto Baraúnas na surpreendente campanha na
Copa do Brasil de 2005. Sem jamais ter conquistado um único Campeonato Potiguar até então, o clube, sob a liderança do mandatário Joao Dehon da Rocha, soube investir o dinheiro acumulado em cada fase superada no torneio mais democrático do futebol brasileiro para se estruturar e poder competir, pelo menos, com os grandes do Rio Grande do Norte como o ABC e o América-RN.
O presidente João Dehon com membros da comissão técnica (Foto: Carlos Guerra Júnior / Divulgação)
- Sou torcedor do clube e nunca tínhamos sido campeões estaduais. Assumi em 2004 e com algum recurso que ganhamos na Copa do Brasil, administrei algumas dívidas e preparei o clube para ser campeão estadual em 2006 e foi. Só que, por problemas pessoais, que me prejudicaram na condução administrativa, abri o clube para outras pessoas participarem da administração, o que foi negativo, pois quiseram resolver pensando como torcedores, somente – esclarece o presidente do Leão do Norte.
Com o fim do primeiro turno do Campeonato Potiguar 2011, o Santa Cruz garantiu uma vaga na decisão, após bater o ABC na final da Taça Cidade de Natal. O Baraúnas terminou a primeira metade do Estadual em sexto, com dez pontos ganhos.
- Ninguém entende o motivo pelo qual o time terminou nessa posição, pois estão todos recebendo em dia. O clube fez um investimento alto para se classificar par a Série D, para ter calendário o ano todo. Nós contratamos o Helinho, maior artilheiro em atividade do Campeonato Potiguar, Marquinhos Mossoró, volante, o Pedrinho Mossoró, que é meia, e Zezinho Mossoró, que é o treinador, todos irmãos do Márcio Mossoró. Wellington Leão, que estava no Gama, o zagueiro Jaílson, que jogou duas Libertadores pelo Mineros, da Venezuela, e o goleiro Marcos Paulo – explicou Carlos Junior Guerra, gerente de comunicação do clube.
No mesmo ano em que o Baraúnas desbravava o cenário do futebol nacional, o nome 'Mossoró' também se tornava notório através de Márcio Mossoró. Até então desconhecido, o meia liderou o Paulista de Jundiaí na surpreendente campanha do título da Copa do Brasil em 2005, batendo o Fluminense na final. O técnico Zezinho Mossoró lembra com orgulho do feito do irmão, que hoje atua pelo Braga, de Portugal, e revela como é a relação de ser o treinador de dois de seus irmãos.
- É uma responsabilidade muito grande, principalmente com o mais velho, o Marquinhos Mossoró. O tratamento aqui é igual, só joga quem tiver condições, todos entendem o relacionamento e todos respeitam. Não tem distinção porque somos irmãos.
Zezinho Mossoró, após ser atleta do clube por seis anos, encerrou a carreira para seguir a de treinador. Começou como auxiliar técnico e, nesta temporada, como Edinho Santos não conseguiu vencer nenhum dos cinco primeiros jogos no Estadual, assumiu o comando.
- Houve uma acomodação de alguns dirigentes depois do título estadual, em 2006, então o clube deu uma caída, não conseguiu mais se aparar. Mas com o retorno do presidente João Dehon, estamos tentando nos reestruturar.
Os irmãos Mossoró reunidos em jogo festivo na cidade (Foto: Carlos Guerra Júnior / Divulgação)
Na ultima temporada, sem a verba da Prefeitura de Mossoró, o Baraúnas apostou num time formado por garotos e se antevê na Primeira Divisão do Estadual, terminando o campeonato em sétimo lugar.
- Em 2011, a diretoria viu que precisava de recursos, fez um planejamento e conseguiu dez patrocinadores. Alem de venda de cadeiras cativas, um grupo de torcedores, que se juntou, paga praticamente tudo de alimentação e vários custos da equipe. Viram que a situação estava complicada e se reuniram para este novo projeto. Criaram uma associação – revelou Carlos Guerrra.
Time se une contra a má fase no Estadual
Mas se quiser uma vaga na Série D do Campeonato Brasileiro, o time terá que engrenar no segundo turno e chegar, no mínimo, à decisão do Estadual.
- É coisa do futebol, o time não se encaixou. Estamos buscando alternativas. O objetivo maior nosso é conseguir a vaga para a Série D e colocar o Baraúnas em uma competição nacional. Seria melhor que o título estadual hoje. É um projeto para o futuro – ressaltou o mandatário João Dehon.
De bloco de carnaval nasce o Baraúnas
O nome “Baraúnas” surgiu dos índios monxorós, que habitavam a margem do Rio Apodi, que corta a cidade de Mossoró. O cacique da tribo recebia a denominação de 'Baraúna'. Em 1924, um morador do bairro “Doze Anos”, de Mossoró, chamado Vicente Eufrásio, as vésperas do carnaval, fundou um bloco denominado “Baraúnas”, em homenagem ao cacique que dirigia a tribo Monxorós e que representaria toda a cidade.
Jogadores oram antes de iniciarem mais um treinamento (Foto: Carlos Guerra Júnior / Divulgação)
- Eu fazia parte deste bloco de carnaval, que já havia sido campeão 25 vezes. Era o responsável pelas fantasias, junto com os demais componentes. Como o futebol era o divertimento do pobre, da maioria da população, nós tivemos a ideia de colocar o futebol dentro deste bloco de carnaval que virou clube, no dia 14 de janeiro de 1960 - recordou Zoizo Barbosa, hoje com 88 anos de idade e um dos fundadores do Baraúnas.
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