- Na infância eu adorava futebol, mas não era de ir a estádio, gostava de acompanhar todos os times daqui e de fora – despista o goleiro. – E agora sou Flamengo. Não tem como não ser, foi o clube que me acolheu, que me deu essa alegria de ser campeão com estádio lotado em São Paulo. Não esperava aquela multidão gritando meu nome, nunca joguei para tanta gente nem em preliminar de clássico, não dá para descrever. É claro que eu quero ficar e tenho esperança de que é isso que vai acontecer.
A negociação para a permanência é aparentemente simples. O Sendas cobra R$ 150 mil pela liberação, e César ainda não tem empresário. Mas não faltam interessados. Leonardo Moura, jogador de Eduardo Uram, comentou com o goleiro por alto que seu agente gostaria de conhecê-lo. O destaque da final contra o Bahia já recebeu ligações com outras ofertas.
- Mas nada muito certo, só papo mesmo - comenta.
A câmera ligada no meio dos convidados da festa lembrava o Big Brother, e César sabe bem o que quer: se tornar líder da casa rubro-negra. Com ensino médio completo, garante ter sido ótimo aluno de português e matemática, sem ter ficado sequer em recuperação em qualquer outra matéria. É articulado e só lembra o estereótipo do boleiro ao citar Deus em todas as frases. No campo, seu messias é Rogério Ceni, exemplo do que pretende ser quando crescer, ou melhor, amadurecer - já que tem 1,92m, quatro centímetros a mais que o camisa 1 são-paulino.
- Gosto muito de falar, sempre peço a palavra nas correntes, tenho esse espírito. E o Rogério é isso, é muito mais do que um goleiro no São Paulo. Até penso um dia em jogar lá fora, mas acho que o momento agora é de aproveitar essa fase. Subir para o profissional já é muita coisa. Conviver com o Felipe, que já foi ídolo do Corinthians e certamente vai se firmar aqui... No último treino eu estava doido pra agarrar, enfrentar o Ronaldinho, mas estou com dor e o médico achou melhor não forçar. Os jogadores me cumprimentaram, queriam me colocar no corredor polonês pelo aniversário, mas escapei. É muita coisa acontecendo. Quero aproveitar essa imensidão que é o Flamengo. Mas agora é botar os pés no chão de novo, ficar tranquilo e trabalhar.
Exemplos de que a vida pode ser cruel não faltam. Aos quatro anos, viu sua mãe se separar. O pai ficou distante. Um baque só compensado pela presença constante de Álvaro, o avô materno. Eric, seu irmão mais velho, tentou ser goleiro e não passou do Bonsucesso. Já como jogador também esteve perto de uma história sem final feliz. A alegria, a admiração por Rogério Ceni e o desejo de liderança remetem a Bruno, que foi de capitão do Fla a prisioneiro. César chegou a treinar com o antigo camisa 1. Fez inclusive alguns desafios de disputa de pênalti.
- Perdi todos, claro, o cara era demais. Quando soube da notícia da prisão levei um susto. Até hoje é difícil acreditar – lembra César, que defendeu uma cobrança na semifinal da Copinha, na disputa de pênaltis contra o Desportivo Brasil.
- Ele tinha uns sete para oito anos, estava caidinho de febre, não queria deixar ele ir de jeito nenhum. Mas era importante para ele, desde cedo sabia se impor. Queria mesmo ser goleiro – lembra a mãe.
Depois de superar a febre e se destacar, César trilhou o caminho do salão para o campo. Para que o filho fosse diariamente a Xerém, Madalena se desdobrou. Segundo ela, a saída do Fluminense se deu por problemas financeiros. Demitida do emprego de vendedora, não tinha mais como bancar a longa viagem diária. A diretoria não quis ajudar. Resolveu, então, levá-lo a São Januário, bem mais perto de casa. César começou a treinar no clube, mas o registro na federação ainda pertencia ao Tricolor, que não o liberou. Madalena pediu ajuda a Siro Darlan, ex-juiz da infância e da juventude do Rio. Ganhou o processo, mas o Vasco já não tinha interesse. César foi jogar na Mangueira, disputou campeonatos de favelas e despertou a atenção do Sendas. O último clube grande a perdê-lo foi o Botafogo, que recebeu oferta do Sendas para ficar com o goleiro e não aceitou. Chegou ao Flamengo em dezembro de 2009. A última opção virou a primeira na lista de desejos. Madalena espera que o casamento não desmorone como o seu.
- No Flamengo só faltaram colocar tapete vermelho, mudou completamente a vida do meu filho. Conheci a Patrícia Amorim, me identifiquei muito com ela, uma pessoa doce, simples. Tomara que o César fique lá por muito tempo.
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