Hoje aos 69 anos, Flórián Albert lembra com carinho das duas partidas que disputou pelo Flamengo 'bem antes de Ronaldinho Gaúcho'
Muito antes de Ronaldinho Gaúcho, o primeiro vencedor da Bola de Ouro da revista "France Football" a jogar por um clube do Brasil também vestiu a camisa do Flamengo. E nem brasileiro ele é. O pioneiro passa os dias numa pequena sala de um estádio de futebol que leva o seu nome em Budapeste. Nela, guarda um livro que manuseia com todo cuidado, com fotos de sua carreira e um capítulo inteiro dedicado a uma viagem ao Rio de Janeiro em 1967.
- Sim, eu fui o primeiro Bola de Ouro a jogar no Brasil e isso me orgulha muito. Foi bem antes do Ronaldinho - diz um sorridente Flórián Albert, hoje com 69 anos e o cargo de presidente de honra do Ferencváros, clube mais vencedor da Hungria.
Flórián Albert exibe quadro com sua caricatura na sede do Ferencváros (Fotos: Rafael Maranhão)
Albert foi parar no Brasil a convite de um dirigente do Flamengo, o sueco Gunnar Göransson. A presença do craque húngaro serviu para promover a disputa da Taça Rivadávia Correia Meyer, um torneio de pré-temporada com dois jogos entre Flamengo e Vasco. Exatos seis meses antes, Flórián Albert havia ajudado a Hungria a derrotar o Brasil por 3 a 1 na Copa do Mundo da Inglaterra, em que a então seleção bicampeã mundial acabou eliminada na primeira fase.
O ex-jogador abre o livro exatamente na página em que aparece com a camisa rubro-negra e aponta para uma foto ao lado do lateral-esquerdo Paulo Henrique, que atuou pela Seleção Brasileira na derrota para os húngaros em Liverpool.
Flórián em ação contra o Vasco: craque só usou
- Ele era um grande jogador e me recebeu muito bem. O resultado de 1966 ficou no campo, não foi levado para fora. Eu fui muito bem tratado por todos no Brasil. Pena que não consegui fazer nenhum gol jogando pelo Flamengo.
Flórián Albert atuou os 90 minutos da primeira partida, disputada na Gávea, com vitória rubro-negra por 2 a 0. Quatro dias mais tarde, no jogo de volta em General Severiano, o Vasco deu o troco pelo mesmo placar e levou o troféu, já que o regulamento previa que em caso de dois resultados inversos o clube convidado ficaria com a taça. Albert, porém, foi embora do Brasil sem sequer saber o resultado daquela partida, em que acabou substituído pelo atacante Fio no segundo tempo.
- Eu tinha que sair para pegar o avião de volta. Era uma longa viagem, cheia de conexões, Lisboa, Paris, até Viena, de onde eu iria de trem até Budapeste. Por isso, deixei correndo o estádio. Não me deixaram nem beber água, porque disseram que eu ia perder o voo. Aí, quando chegamos ao aeroporto, um funcionário perguntou: "Mas para que a pressa? O avião só sai daqui a três horas" - conta Albert, soltando uma gargalhada.
Na epoca era preciso autorização do governo comunista para deixar a Hungria e Albert tinha data marcada para voltar ao país. Naquele mesmo ano, o craque seria eleito o vencedor da Bola de Ouro, premiação criada pela revista francesa France Football e que até 1995 era restrita a jogadores europeus. Em 2010, a Bola de Ouro acabou se unindo ao prêmio de melhor do ano da Fifa, criado em 1991. Albert, que superou o inglês Bobby Charlton por 28 votos, é o único húngaro ganhador do troféu. O herói nacional Ferenc Puskás, craque maior do time vice-campeão mundial de 1954, teve como melhor resultado o segundo lugar em 1960.
- Aquele ano de 1967 foi o maior de minha carreira. Ganhei a Bola de Ouro, tive o prazer de jogar no Brasil e ainda vivi o nascimento do meu filho, também chamado Flórián Albert e que tornou-se jogador da seleção húngara. Além da camisa do Ferencváros e da seleção da Hungria, a única outra que vesti foi a do Flamengo - diz o ex-atacante, que encerrou a carreira em 1974.
Da passagem pelo Rio de Janeiro, Albert lamenta apenas não ter ficado mais tempo para aproveitar o Carnaval e guarda uma dúvida até hoje.
- O pessoal ainda joga futebol em Copacabana? Aquilo me deixou muito impressionado. Era tão organizado, equipes uniformizadas, árbitros, bancos de reserva. Sem falar no talento dos jogadores. E o melhor é que, depois da partida, você precisava apenas atravessar a rua para ir relaxar nos bares em frente à praia. Nada mal.
Flórián exibe orgulhoso livro com várias fotos da carreira, incluindo capítulo com a passagem pelo Flamengo
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