Por Vinicius Castro, UOL Esporte - Postado por Abraao Na Rede
Dois celulares ligados 24 horas por dia, conversas com a diretoria e a responsabilidade de conduzir boa parte do futebol rubro-negro. Este é Vanderlei Luxemburgo, sempre atarefado com as questões do clube. Durante a entrevista exclusiva concedida ao UOL Esporte em Atibaia, interior de São Paulo, na semana passada, o treinador já estudava uma tabela com os próximos jogos. O objetivo era saber quando viajar, treinar em dois períodos, dar folga aos atletas... Todo o processo de uma dinâmica que move um grande clube do futebol brasileiro.
No bate-papo, o treinador rubro-negro fala sobre questões técnicas do Flamengo. Categorias de base, veteranos, Marcelo Lomba, Petkovic, Vagner Love, Juan, e até sobre uma possível ajuda do amigo Zico no futebol rubro-negro.
“Tudo é uma conversa. O Zico é flamenguista mesmo, assim como eu e tantos outros. Se ele tiver que ajudar, com certeza o fará. Os arranhões ficam, mas cicatrizam”, afirmou Luxa.
Confira a parte final da entrevista:
UOL Esporte - Qual o jogador com o maior potencial nas categorias de base do Flamengo?
Luxemburgo - Não vamos falar assim. Às vezes, achamos e acaba não acontecendo. É muito difícil você carimbar. Mas vejo nesta base uma grande possibilidade de sustentação do Flamengo, uma geração de equipe mesmo, o que é totalmente diferente de sustentar financeiramente. Hoje, o Flamengo se sustenta com os contratos paralelos. A venda de jogadores vai se tornar um plus, não apenas o único caminho. Vai representar um percentual do orçamento, mas nunca a situação principal.
Mas existe algum desses atletas com a condição de ficar em definitivo nos profissionais?
Luxemburgo - Eles não são profissionais. Eles têm contrato, mas não estão em definitivo na equipe. São Juniores. Por exemplo, o Negueba vai poder jogar a Copa São Paulo no ano que vem. A janela e a porta estão abertas para eles, mas precisa ficar claro que pertencem ao departamento amador. Ano que vem, assim que acabar a Copinha já vou poder refazer o elenco com esses jogadores de forma definitiva.
Existe algum veterano que ainda jogue atualmente e lhe encante com o futebol apresentado?
Luxemburgo - Essa coisa de veterano depende muito. O Júnior era um veterano que todo mundo queria, pois nunca teve uma lesão importante. O Cerezo jogou no São Paulo com 39 anos. O Rivaldo está agora no São Paulo. Depende muito das condições de cada um para efeito de contratação. Houve uma mudança considerável no processo para a contratação de jogadores. Quando os veteranos resolvem vir para o Brasil, querem fazer um contrato de três anos. Mas será que um contrato de três anos com um jogador de 33, 34 anos compensa? É preciso discutir isso, analisar bem para o jogador não ficar encostado. O espaço para os veteranos sempre vai existir. Hoje em dia temos muito mais veteranos jogando do que antigamente. No Brasil, destaco o Liedson, que está voando. O próprio Angelim. Coloco-o no jogo e parece uma criança atuando.
Como é a sua relação com os jogadores afastados do Flamengo (Pet e Correa)?
Luxemburgo - Não tenho contato com eles. Fico abismado com algumas coisas. Por exemplo, as pessoas dizem que o Flamengo tem que fazer uma homenagem para o Petkovic. Dizem que ele está aqui e faltamos com respeito. Isso não existe em nenhuma empresa. O Pet é uma pessoa maravilhosa. Me dou bem com ele. Trabalhamos juntos no Santos, no Flamengo, mas alguma coisa precisava ser feita. Tinha que fazer uma atuação profissional. Não fiz contra o Pet ou contra o Correa, fiz como gestor do Flamengo. Se está certo ou errado as pessoas podem analisar com o tempo. Me cobram coisas, homenagens... O Zico conquistou campeonatos brasileiros e foi homenageado algumas vezes. O Pet também vai ser homenageado muitas vezes, mas não tem que ser agora, ou arrumar outro cargo para ele. Vai ser no tempo que tiver de ser. O Pet é um jogador que está marcado no clube. Por acaso funciona assim nas empresas quando o cara é afastado ou muda de setor? É claro que não. Mas quando sou eu que faço junto com a diretoria as pessoas me tacam pedras.
E a situação do Marcelo Lomba? Estava acertado com a Ponte Preta, mas as coisas não deram certo. A impressão é a de que ele é um jogador afastado dentro do próprio elenco...
Luxemburgo - Hoje o meu terceiro goleiro é o Vinícius. Poderia deixá-lo afastado. Ano passado ele foi o titular e seria emprestado. O Cantarelli (preparador de goleiros) precisava de jogadores para trabalhar e pediu o Lomba no elenco até arrumar um clube para ele. Foi por isso que o deixamos no grupo principal mesmo com o César subindo aos poucos. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Ele voltou porque a negociação não evoluiu, mas continuamos buscando alguma coisa para ele.
A contratação do zagueiro Juan, da Roma-ITA, já está sendo trabalhada nos bastidores?
Luxemburgo - O assunto contratação é tratado internamente. Foi a única maneira que entendi no mercado do futebol para buscar um equilíbrio. Quando expomos o interesse, os valores dobram, ficam absurdos. O Flamengo não está pronto e precisa se mexer. Se eu disser que o Juan é um jogador que não tem a marca do clube, vou estar mentindo. Mas daí até chegar à contratação existe uma distância considerável.
E o Vagner Love?
Luxemburgo - O Love foi ao Flamengo negociar uma dívida e depois fizemos uma proposta para ele. Isso é uma verdade. Ele tem interesse em voltar e esperamos contar com ele. Acho um pouco de trabalho equivocado por enquanto. A negociação é um processo delicado. Os empresários negociam muito através da imprensa também. Mas essa é a realidade do futebol. Ele vai seguir conversando com os caras e o Flamengo vai seguir aguardando.
Você tem conversado com o Zico sobre o Flamengo? Em certa ocasião você afirmou que poderia pegar umas dicas com ele em termos de estrutura...
Luxemburgo - Conversamos apenas sobre alguns jogadores. Na estrutura, ele deu o ponta-pé inicial no CT, mas não tenho falado com ele. Até pelo fato de ter muita experiência em CT, tudo o que já vi e participei. Mas não restam dúvidas de que se precisar consultá-lo o farei.
Apesar da saída traumática do clube, você acredita que ele voltaria ao Flamengo se o convidasse?
Luxemburgo - Claro. Tudo é uma conversa. O Zico é flamenguista mesmo, assim como eu e tantos outros. Saí do Flamengo em 1995 e ajudei o clube mesmo estando longe. A renovação do Maldonado lá atrás foi feita por mim também. Ele me telefonou junto com o empresário e resolvemos a questão. Se ele tiver que ajudar, com certeza o fará. Os arranhões ficam, mas cicatrizam.
Acha que ele poderia ajudar o clube já agora?
Luxemburgo - Acho que se eu estivesse chegado quando ele ainda estava aqui seria muito melhor. E tocarmos nesse assunto no momento não vai trazer benefício. O Zico já disse que vai ajudar quando puder, mas voltar em um cargo agora não seria o caso. Eu teria que sair, o Isaías Tinoco (gerente de futebol), ou o Veloso (diretor-executivo de futebol) para que ele pudesse reassumir. Até a própria Patricia (risos)... É uma discussão que não cabe. Ele pode consultar com a gente, nos ajudar assim, como fez no Kashima-JAP.
E uma campanha com os campeões mundiais em relação ao Ninho do Urubu...
Luxemburgo - Temos que usar todas as armas. Essa é uma arma interessante, mas precisamos pesquisar com o marketing. Porém, o que temos que usar mesmo é o momento atual. Não podemos perder tempo, o hoje é muito produtivo no Flamengo. Estamos construindo tudo isso junto.
Está cada vez mais fácil ganhar a Copa do Brasil?
Luxemburgo - Não acho. Muitos times menores já foram campeões. Cinco, seis times disputam a Libertadores e nove grandes clubes disputam a Copa do Brasil. É duro vencer essa competição. Não é fácil não. Se você perde muitos jogadores acaba jogando a competição fora. Não podemos dar mole em hipótese alguma.
E o caminho do Flamengo para vencer a competição este ano...
Luxemburgo - É complicado. O Estadual e a Copa do Brasil vão se cruzar lá na frente. Viagem, desgaste, concentração, não vai ser fácil. Vejo o Flamengo com possibilidades de chegar mesmo com a necessidade de alguns reforços, mas temos condições de vencer as duas competições. O nosso trabalho é para isso.
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