quarta-feira, 6 de abril de 2011

Zebra contra Barça, Shakhtar passa de símbolo socialista a time do dinheiro

Clube ucraniano se inspira em herói do passado e conta com legião brasileira para escrever o capítulo mais importante de sua história

Por Fábio Lima Rio de Janeiro - Postado por Abraao Na Rede

O Barcelona recebe nesta quarta-feira o Shakhtar Donetsk, uma das zebras da Liga dos Campeões, em duelo válido pela ida das quartas de final da competição. Com nome esquisito e conhecido no Brasil por ter sete brasileiros no elenco (contando Eduardo da Silva, naturalizado croata), o time ucraniano tem uma história digna das melhores páginas de enciclopédias. Fundado como símbolo socialista, o clube hoje é controlado pelo 38º homem mais rico do mundo. E é com a força do capitalismo que vai tentar eliminar Messi & cia.

O GLOBOESPORTE.COM transmite a partida ao vivo a partir das 15h30m (de Brasília)

ilustração jogadores brasileiros shakhtar 1 (Foto: ArteEsporte / Cláudio Roberto)
Jogadores brasileiros terão que honrar tradição iniciada há 75 anos, baseada em um mineiro que virou herói nacional na Ucrânia e inspirou a fundação do Shakhtar Donetsk (Foto: ArteEsporte / Cláudio Roberto)

Capitalismo selvagem

Controlado pelo bilionário ucraniano Rinat Akhmetov desde 1996, o Shakhtar Donetsk é um símbolo do capitalismo desenfreado que chegou com fúria aos países da antiga União Soviética (URSS) após o fim da Guerra Fria. Jovens como o russo Roman Abramovich, dono do Chelsea, e o próprio Akhmetov, enriqueceram repentinamente de modo pouco esclarecido até os dias de hoje, fazendo alianças com políticos e gerando fortunas assumindo o controle de empresas estatais que exploram bens naturais.

- Alguns já eram parte da burocracia soviética (diretores de empresas estatais ou altos funcionários do Estado) e apenas se relocalizaram em função da volta do capitalismo, se utilizando de fundos públicos ou simplesmente roubando a propriedade estatal desde os postos que ocupavam, muitas vezes com métodos de gângsters e mediante violência - explicou Henrique Canary Rodrigues, mestre em História pela Universidade Russa da Amizade dos Povos.

Estádio Shaktar (Foto: Divulgação)
Nova casa: moderna Arena Donbass foi construída ao lado do antigo Estádio Olímpico (Foto: Divulgação)

O Shakhtar tem um um estádio de US$ 400 milhões (R$ 642 milhões), a Donbass Arena, e um elenco com sete brasileiros: Jadson, Fernandinho, Willian, Alex Teixeira, Douglas Costa, Luiz Adriano e Eduardo da Silva, que joga pela Croácia. O clube cresce a cada ano, assim como a fortuna de Akhmetov. Em 2009, o Shakhtar conquistou a Copa da Uefa (atual Liga Europa) e, na atual temporada, conseguiu alcançar as quartas da Champions pela primeira vez em sua história, que foi iniciada de uma maneira contrária à filosofia atual. Fundado por mineiros, o time nasceu como um símbolo do socialismo soviético. A prova está no nome de batismo: Stakhanovets.

Inspiração em um mineiro que virou celebridade

Shaktar (Foto: Divulgação)
Stakhanov: estrela internacional (Foto: Divulgação)

Stakhanovets é o nome de um movimento de trabalhadores originado na região de Donbass, rico centro industrial de minas de carvão em que se situa a cidade de Donetsk. O movimento tinha como base os feitos de um mineiro chamado Alexey Stakhanov. Para provar a importância dos trabalhadores no crescimento industrial da União Soviética e demonstrar a superioridade do sistema econômico socialista, Stakhanov aumentou consideravelmente o ritmo de seu trabalho, extraindo um recorde de 102 toneladas de carvão em cinco horas e 45 minutos. Virou celebridade instantânea, sendo capa da revista norte-americana "Time", e um modelo, inspirando trabalhadores de outros setores industriais.

- A URSS realmente aumentou a produtividade do trabalho na época, mas isso se deveu a inúmeros outros fatores, muito mais importantes do que o movimento stakhanovista: a importação de tecnologia, o investimento massivo em formação de engenheiros e operários qualificados - destacou Henrique.

Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, os jogadores foram obrigados a trocar os campos de futebol pelos campos de batalha. Os nazistas conseguiram invadir a cidade de Donetsk causando caos e destruição na região. Após o fim da guerra, poucos jogadores sobreviveram, e o Shakhtar foi obrigado a nascer novamente, mudando inclusive de nome, já que o Stakhanovismo também passou por uma reformulação. "Nascia" o Shakhtyor.

O poderoso chefão

No dia 11 de outubro de 1996 foi iniciada a revolução que colocaria o clube ucraniano no mapa do futebol internacional. O jovem empresário Rinat Akhmetov, então com 30 anos de idade, assumia a presidência com a promessa de transformar o Shakhtar Donetsk em uma potência europeia. A missão parecia utópica para o momento mas se transformaria em realidade alguns anos depois. Com fortuna avaliada em US$ 16 bilhões (R$ 25,7 bilhões), Akhmetov figura na lista da revista "Forbes" como o 38º homem mais rico do mundo. Abramovich, por exemplo, é o 53º do ranking, com US$ 13,4 bilhões (R$ 21,3 bilhões).

Shaktar (Foto: Divulgação)
Akhmetov é adorado pelos jogadores, que o exaltaram após a conquista da Copa da Uefa (Foto: Divulgação)

Os números da gestão Akhmetov são impressionantes. Desde 1996, o clube sempre figurou entre os dois primeiros colocados do Campeonato Ucraniano. Internacionalmente, o Shakhtar roubou o protagonismo do gigante da capital e maior rival, o Dínamo de Kiev - liderado pelo experiente atacante Shevchenko, o Dínamo eliminou o milionário Manchester City e está nas quartas de final da Liga Europa.

- Ele sempre aparece nos treinamentos e vai aos jogos. É um cara humilde, que confia muito nos jogadores. Existe um respeito muito grande - explicou o meia Willian, ex-Corinthians.

Isso aqui ôô, é um pouquinho de Brasil, iaiá...

O futebol é a grande paixão de Rinat Akhmetov. Introvertido, seu temperamento muda quando está acompanhando os jogos do Shakhtar. Fã dos jogadores brasileiros, o magnata começou a focar seus investimentos nos brasucas, usando todos os artifícios possíveis para convencê-los de que "entrar numa fria" na Ucrânia é um bom negócio. O atacante Brandão, do Cruzeiro, abriu as portas, sendo contratado em 2002. O jogador é o maior artilheiro do clube em competições europeias.

O time atual conta com os seis brasileiros (Willian, Jadson, Luiz Adriano, Fernandinho, Douglas Costa e Alex Teixeira), além de Eduardo da Silva, que é naturalizado croata, e Marcelo Moreno, que é boliviano mas jogou nas categorias de base da Seleção Brasileira. O ataque é praticamente todo tupiniquim e só consegue ser parado na base da força - é o time que mais sofreu faltas na Liga dos Campeões.

As próximas páginas serão escritas a partir desta quarta-feira. O vencedor do confronto entre Shakhtar e Barça, com a partida de volta na próxima terça, vai enfrentar quem sair de Real Madrid x Tottenham (vitória de 4 a 0 do clube merengue na ida). Os brasileiros do clube dos mineiros terão a chance de se transformarem em novos ícones - virando o capítulo mais importante da enciclopédia chamada Shakhtar Donetsk.

alex teixeira comemora gol do shakhtar donetsk (Foto: Shakhtar Donetsk)
Brasucas comemoram gol do Shakhtar: símbolos de uma nova era do futebol ucraniano (Foto: Divulgação)

Nenhum comentário: