sexta-feira, 1 de abril de 2011

Segredos da camisa 1: Felipe dá dicas a goleiro de ‘Malhação’

Titular do Flamengo se diverte em encontro com Marcello Melo Junior, ator que interpreta Maicon na novela da Rede Globo

Por Janir Júnior e Richard Souza Rio de Janeiro - Postado por Abraao Na Rede

Os 7,32m de largura do gol impressionam na vida real. Para o ator, a distância entre as traves parece insuperável, ainda que de braços bem abertos. Mas a personagem é movida pelo desafio de dominar aquele espaço. Na atual temporada de “Malhação”, da Rede Globo, o ator Marcello Melo Junior, de 23 anos, interpreta o divertido goleiro Maicon. Na novela, ele é capitão e figura maior do Nacional. Aluno do Ensino Médio, só estuda porque o clube obriga.

- O Maicon é um típico adolescente sonhador, tem o futebol como sonho de criança. É moleque. Mas agora ele vê as cobranças que existem. Na verdade ele apenas sonhava ser goleiro, mas com o desenvolvimento pensa em fazer carreira. Vai cobrar falta, é o capitão do time – contou Marcello.

felipe flamengo marcelo mello ator (Foto: Richard Souza/Globoesporte.com)
Felipe presenteou Marcello Melo Junior com um par de luvas e a camisa de goleiro do Flamengo (Foto: Richard Souza/Globoesporte.com)


- Procuro conhecer um pouco mais, observando os jogos, as defesas de mão trocada. Via Rogério Ceni, Taffarel, caras cascudos que admiro. O Marcos marcou pela Copa de 2002, não passava nada. Vejo mais futebol do que antes. Via só jogos do Flamengo (time do coração dele) e da Seleção. Hoje em dia sento no sofá e vejo mais. Tiro algumas manias dos goleiros, como dar uma conferida na rede, tocar as traves, fazer oração. Vejo como é a formação da barreira, a postura forte dentro de campo. Eles mostram que naquela área quem manda são eles. Nas primeiras cenas, machuquei o ombro. Agora estou mais preparado, alongo, dou uns pulinhos. A pesquisa sobre o universo do goleiro mostrou que é algo particular, é um jogador que fica isolado na defesa.

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Um especialista foi convocado para avaliar a interpretação de Marcello e ajudar a aperfeiçoar os movimentos: Felipe. No divertido encontro num centro de futebol do Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio, o titular do Flamengo mostrou-se exigente logo na chegada.

- Não adianta interpretar sem fazer bem feito, hein? (risos). Não é fácil. Para ser goleiro é complicado. Até para quem é profissional é difícil. Mas deve ser legal para ele também. Nos programas esportivos de segunda-feira, só se fala de atacantes. Fico feliz de um goleiro ser personagem de uma novela.

Felipe contou a Marcello que virou goleiro por acaso e reconhece que não é uma posição para qualquer um.

- Por eu ser maior, me jogaram, me obrigaram a ir para o gol. Para ser goleiro tem de gostar muito.

O bate-papo aflorou a curiosidade do ator. Marcello quis saber detalhes, se jogou nas experiências do profissional.

- Nos pênaltis, o que você pensa? – indagou.

- De tudo um pouco. Quando é um jogador conhecido, você já sabe um pouco sobre a atitude dele. Quando é desconhecido, tenta se informar antes. Na hora também tem o sentimento – respondeu Felipe.

- Todo goleiro queria ser atacante?

- No rachão eu só jogo na linha. Nas peladas com meus primos sempre vou na linha para fazer uns golzinhos. Já fico no gol de segunda a domingo, tenho de aproveitar (risos).

Bê-a-bá dos goleiros

felipe flamengo marcelo mello ator (Foto: Richard Souza/Globoesporte.com)
Felipe ensina Marcello a evitar o frango clássico

(Foto: Richard Souza/Globoesporte.com)

Com 1,87m, Marcello demonstrou desenvoltura no teste com Felipe. Saltou no ângulo para fazer defesas e teve atitude ao simular orientações para zagueiros imaginários.

- Vamos lá, vamos lá! Atenção todo mundo. Se vocês não marcarem vou tirar do time, hein? – gritou.

Para Felipe, um goleiro bonzinho demais.

- Você interpretou bem, com sangue. Mas se eu falasse assim com meus zagueiros eles me amariam. Tem hora que fala com calma, mas tem hora que dá uma dura mesmo, falar palavrões.

O camisa 1 do Flamengo ajudou Marcello em três frentes: pênaltis, saídas de gol e técnicas para evitar frangos.

- Pênalti é obrigação do atacante, mas fazemos o possível para defender. Goleiro pega pênalti mal batido. A dica mais importante é olhar a bola (Felipe cobrou dois e converteu ambos).

- Na saída de gol é preciso ter tempo de bola, perceber o momento em que ela sai do pé do adversário. Se possível, segurar a bola sempre à frente da cabeça. Quando você salta, coloca um dos joelhos para frente. Na dúvida, soca a bola. Goleiro não pode ter dúvida. Se tiver, toma o gol.

Após algumas saídas desengonçadas, Marcello conseguiu acertar o movimento.

- É muita coisa para pensar ao mesmo tempo. Bola, joelho, mãos – comentou o ator.

- E aquele frango clássico, por entre as pernas? – perguntou Marcello.

- Já aconteceu com todo mundo. Você tem que se abaixar e flexionar uma das pernas. É importante fechar bem os braços para não deixar a bola passar. Se passar, aí não tem jeito. Vai ficar com aquela cara de sem graça.

Assunto sério: racismo


Em “Malhação”, a referência do goleiro Maicon é Barbosa, falecido em abril de 2000. Embora tenha sido considerado um dos maiores da posição na sua época, Barbosa é mais lembrado por sua participação na derrota da Seleção Brasileira na final da Copa do Mundo de 1950, contra o Uruguai. Em particular pelo segundo gol uruguaio, marcado por Ghiggia, que silenciou o Maracanã. Na derrota por 2 a 1, acabou sendo responsabilizado pelo fracasso. Na novela, Barbosa virou o santo protetor de Maicon.

marcelo mello malhação goleiro (Foto: TV Globo)
Marcello Melo em cena de 'Malhação': Maicon recorre a 'São Barbosa' (Foto: TV Globo)

- Estava em casa e o roteirista da novela me ligou, falou das referências do Barbosa, o maior ídolo dele, que foi responsabilizado pela derrota de 50. Pelo carinho do diretor, virou um santo. É a referência para o Maicon. Não conhecia a história do Barbosa, que durante muitos anos conviveu com essa injustiça. Fico muito honrado de recuperar a imagem dele.

Seguro, elástico, destemido e dotado de excelente senso de colocação. Barbosa também é referência para Felipe, que lamenta o peso que ele carregou até a morte.

O Barbosa morreu como vilão da Copa. Eu acho que houve preconceito. Foi um dos primeiros negros a jogar a Copa. A lembrança que ficou foi do gol que ele tomou. Já passei por isso (racismo) num ex-clube. Mas o Jefferson, do Botafogo, é negro, está na Seleção e para mim é o melhor goleiro do futebol brasileiro. Estamos quebrando isso"
Felipe

- O Barbosa morreu como vilão da Copa. Eu acho que houve preconceito. Foi um dos primeiros negros a jogar a Copa. A lembrança que ficou foi do gol que ele tomou. Já passei por isso (racismo) num ex-clube. Mas o Jefferson, do Botafogo, é negro, está na Seleção e para mim é o melhor goleiro do futebol brasileiro. Vemos poucos goleiros negros em grandes equipes. Antigamente os goleiros chegavam num clube para jogar e não prestavam porque eram pretos. Mas estamos quebrando isso.

Em 2005, Felipe acusou o então presidente do Vitória, Paulo Carneiro, de racismo. Segundo o goleiro, depois de uma discussão no vestiário do Barradão, logo após o empate com a Portuguesa, que rebaixou o Leão à Série C do Brasileiro, o cartola o chamou de “preto safado e vagabundo”.

Marcello, que há 15 anos faz parte do grupo de teatro Nós do Morro, que nasceu no Morro do Vidigal, na Zona Sul, diz que nunca viveu algo parecido, mas conta que a discriminação racial sempre se fez presente.

- Sou de comunidade, moro no Vidigal. Nunca fui vítima de preconceito, mas sempre vivi muito perto. Mas isso nunca me afetou. É algo ignorante. Estamos aqui para quebrar barreiras.

felipe flamengo   (Foto: Richard Souza/Globoesporte.com)
No fim da gravação, Felipe faz pose e diz que pode fazer papel de galã: 'Tem de fazer esse olhar' (Foto: Richard Souza/Globoesporte.com)

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