sábado, 2 de abril de 2011

Guarani completa 100 anos tentando resgatar prestígio e brilho do passado

Prestes a perder o Brinco de Ouro da Princesa, clube luta para subir novamente para a elite do futebol brasileiro e relembrar tempos áureos

Por Julyana Travaglia Campinas, SP - Postado por Abraao Na Rede

Um clube repleto de dívidas e prestes a perder seu estádio. Uma equipe que disputa a Série A-2 do Paulista, a segunda divisão do Campeonato Brasileiro e viu ainda nesta semana a queda na Copa do Brasil para o modesto Horizonte, do Ceará. Com uma série de dificuldades financeiras e de estrutura, o Guarani completa neste sábado 100 anos de vida. Um centenário esvaziado por fracassos recentes, mas que, segundo o presidente do clube, Leonel Martins, pode significar um recomeço.

- Não é tarefa fácil. Temos de subir no Paulista, no Brasileiro, fazer um estádio novo e dar ao Guarani condições de montar times competitivos. Está tudo penhorado em função do passivo. As ações estão suspensas porque fizemos um acordo na Justiça do Trabalho. Depositamos um valor mensal para outros processos trabalhistas. Tudo culpa das más administrações passadas. E eu tenho de dar conta desse presente de grego. Não é nada fácil - explica Martins, reeleito recentemente para o triênio.

A diretoria do Guarani evita falar o valor da dívida. Diz apenas que é algo "impagável". De acordo com o mandatário, o passivo está em torno de R$ 100 milhões. Para fazer o clube respirar, o estádio Brinco de Ouro da Princesa terá de ser sacrificado. Será vendido e o Bugre receberá uma nova casa, em outra área da cidade de Campinas. Assim, a arena que viu a maior conquista do time na sua história, o Brasileiro de 1978, e que foi passarela para atletas como Neto, Luisão, Amoroso e Elano (todos jogadores revelados pelo clube), ficará apenas na lembrança dos torcedores.

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O clube perdeu a referência quando abandonou as categorias de base, que sempre foram sucesso"
Careca

- Foram vários fatores que fizeram com que o Guarani chegasse a este ponto. As más administrações deixaram o clube no buraco. O clube perdeu a referência quando abandonou as categorias de base, que sempre foram sucesso - lamenta Careca, renomado atacante do time no fim dos anos 70 e um dos principais jogadores formados na base do Bugre.

Um dos principais destaques da equipe que derrubou o Palmeiras em duas finais no Campeonato Brasileiro de 1978 (1 a 0 nas duas partidas), Careca ainda guarda na memória os momentos marcantes daquele grupo que fez história. Comandado por Carlos Alberto Silva, a equipe campineira conseguiu 20 vitórias em 32 partidas - o time ainda teve oito empates e quatro derrotas.

- Formamos um grupo forte e com muito talento. Tinha o Zé Carlos, o Zenon, o Renato, o Neneca. O Carlos Alberto me deu uma oportunidade nessa equipe e sou grato. Não foi por acaso que fomos campeões. Fizemos por merecer - avalia o ex-camisa 9, autor do gol do título nacional.

Zenon, outro que foi marcante na conquista nacional, só lamenta o fato de o clube não viver seus melhores dias. Com tristeza, ele acompanha a situação difícil dos últimos anos do Bugre. E torce por dias melhores, como nos vividos há 33 anos.

Centenário Guarani carteirinhas (Foto: Marcos Ribolli / Globoesporte.com)
Carteirinhas de Careca e Zenon são preservadas

pelo Bugre (Marcos Ribolli/GLOBOESPORTE.COM)

- Acompanho essa decadência do Guarani desde 2000. Nos últimos 10 anos, o clube só vem tentando resolver ações na justiça, trabalhando no vermelho e tentando de todas as formas voltar ao que era. Meu sentimento é de tristeza e pesar pelo que está acontecendo com um clube da tradição do Guarani. Quando cheguei, em 1976, tinha estrutura, mais de 20 mil sócios. Praticamente não dependia de renda para saldar dívidas. Colocava no mercado brasileiro três ou quatro jogadores todo ano, e a gente não vê mais isso. Talvez até em virtude de mudanças que aconteceram como a Lei Pelé, que não deixa clube seguro com relação a revelação dos jogadores - diz Zenon.

Enquanto os bons tempos não voltam, o Bugre, apesar do clima de melancolia, celebra a data centenária. Durante este sábado, o Brinco de Ouro da Princesa receberá uma série de eventos para comemorar os 100 anos, como missa na capela, um show com bandas do interior paulista e exposição de fotos com momentos históricos.

- Não adianta olhar para trás. A data é significativa, temos de comemorar como merece e nessa hora não tem de chorar. Tem de comemorar com alegria e fazer possível para que todos participem. Não é nada fácil, mas temos tradição, uma história bonita, forte e vamos superar tudo isso. Como diz o lema do centenário, são 100 anos de raça e tradição. E ainda vamos voltar aos bons tempos - conta o presidente bugrino.

Do blog: De qualquer forma, Parabéns Guarani!

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