O racha no Clube dos 13, criado em 1987 com a finalidade de "salvar o futebol brasileiro", como seu próprio site oficial define, expõe a situação caótica atravessada pela modalidade no país pentacampeão a três anos do início da Copa do Mundo de 2014. Empossado como presidente da CBF em 1989, Ricardo Teixeira resistiu a duas Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) e, nos últimos 21 anos, conduziu os maiores clubes brasileiros à crise atravessada atualmente.
Ao longo de sua longa gestão, marcada por uma série de escândalos e pelos títulos mundiais em 1994 e 2002, Teixeira, impulsionado pelo ex-sogro
João Havelange, presidente da Fifa entre 1974 e 1998, aproveitou brechas e jogou com interesses. Desta forma, manipulou clubes, dirigentes e ídolos para alcançar seus objetivos e satisfazer seus pares. Mais de uma vez, mudou de ideia, ignorou o que havia dito anteriormente e alterou o próprio posicionamento político.
Apontado como possível sucessor do suíço Joseph Blatter na cadeira ocupada por seu ex-sogro na Fifa, Teixeira se prepara para alcançar o ápice no comando da CBF com a Copa-2014. Fortalecido pela posição de hostess do evento, o cartola movimenta as
peças no tabuleiro para maximizar seu poder antes do Mundial. As últimas jogadas do dirigente, no entanto, semearam a discórdia entre os times e deixaram o tradicional Clube dos 13 ameaçado.
Sem a cláusula de preferência utilizada pela Rede Globo nos últimos anos para adquirir os direitos de transmissão do Brasileiro, outras emissoras se interessaram pelo campeonato. Para o triênio 2012-1014 do torneio nacional, o Clube dos 13 pretende lucrar também com TV a cabo, pay-per-view, telefonia móvel, internet e direitos internacionais. Com a poderosa televisão carioca ao seu lado, Teixeira, aliado a Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, assiste
a um verdadeiro racha na entidade.
O Corinthians já formalizou seu pedido de saída do Clube dos 13 e estaria tentando cooptar novos clubes. Flamengo, Botafogo, Fluminense, Vasco e Coritiba ainda não oficializaram o desejo de deixar a entidade, mas avisaram que pretendem negociar com as emissoras de forma independente. Além da Globo, a Record e a Rede TV participam da concorrência. Caso as equipes fechem com mais de uma emissora, os jogos de times de diferentes facções não seriam transmitidos.
Diante da crise, Ataíde Gil Guerreiro, diretor executivo do Clube dos 13 e articulador do modelo de
edital para comercializar os direitos, clama pela união. "Nossa única chance é estar juntos. Com todos, o contrato (para transmissão em TV aberta) será de R$ 500 a R$ 600 milhões. Separados, não será. Temos que fazer alguma coisa, engolir alguns sapos e conversar com as emissoras. Na minha opinião, devemos chamar todos os descontentes para conversar", afirmou o dirigente, conselheiro do São Paulo.
A ruptura no Clube dos 13 acentuou-se nas últimas eleições presidenciais da entidade, realizadas em abril do ano passado. Sanchez explicitou a união com Teixeira e apoiou
Kléber Leite, que até homologou sua candidatura em um papel timbrado do Corinthians. Botafogo, Coritiba, Cruzeiro, Goiás, Santos, Vasco e Vitória-BA ficaram do mesmo lado e foram derrotados por Fábio Koff, apoiado por Atlético-MG, Atlético-PR, Bahia, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Guarani, Inter, Palmeiras, Portuguesa, São Paulo e Sport.
De forma indireta, sempre com o Corinthians ao seu lado, Teixeira causou um racha entre Flamengo e São Paulo, dois dos principais clubes entre os que votaram em Fábio Koff. Dois dias depois da reeleição do mandatário do Clube dos 13, o presidente da CBF declarou que o Tricolor é o verdadeiro
dono da Taça das Bolinhas, algo lembrado pela Caixa Econômica Federal para entregar o prêmio à equipe em fevereiro deste ano. Uma semana após os paulistas receberem o troféu, ele resolveu mudar de ideia e reconhecer o Flamengo como campeão de 1987 ao lado do Sport.
Com o Corinthians e o Flamengo ao seu lado, Teixeira reúne as duas agremiações com mais peso na negociação dos direitos de transmissão, enfraquecendo significativamente o Clube dos 13. Desafeto de Andrés Sanchez, Juvenal Juvêncio, que viu o Morumbi desprezado pelo presidente da CBF em detrimento do embrionário Fielzão no Mundial-2014, fica ainda
mais isolado. Até o momento, São Paulo e Palmeiras são os únicos times do top de linha do Clube dos 13 que não se manifestaram contrários à entidade.
Juvenal lembrou o nascimento da entidade para tentar demover os dissidentes. "O Clube dos 13 foi criado para romper com o status quo e precisa ser ousado em suas posições", justificou. Para o são-paulino, os times que negociarem separadamente conseguirão valores inferiores. "Se dispensar dez para ganhar cinco, como explicar em casa? Seríamos muito mais fortes no mesmo barco", completou o mandatário, que deixou no ar uma critica à CBF: "você
sabe o que eles estão fazendo...".
Pelo menos diante das câmeras, Fábio Koff, presidente do Clube dos 13, garante não temer uma possível saída em bloco, algo que poderia sepultar a entidade. "Com exceção do Corinthians, ninguém disse que vai sair", afirmou. Ele evitou criticar a CBF abertamente, mas se disse surpreso com a situação. "É uma estranha coincidência. Teve 24 anos para reconhecer (o título do Flamengo) e podia ter reconhecido com os outros campeões (do Robertão e da Taça Brasil), mas não o fez. Eu só posso
estranhar", declarou.
Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG e membro da comissão que conduziu o processo ligado à venda dos direitos de transmissão, procurou tirar o foco dos subterfúgios da CBF. "A briga aqui é por dinheiro e interesses. Com um contrato de R$ 3,9 bilhões (no triênio), é ridículo ficar falando de Taça das Bolinhas. Os clubes têm que parar de fazer papel de bobo. Ninguém vai ficar emburradinho com um contrato de R$ 3,9 bilhões", reiterou.
Antes de agradar ao Flamengo e reconhecer o antigo pleito do time rubro-negro, a CBF usou o mesmo expediente e chancelou
os títulos da Taça Brasil e do Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Fluminense, Palmeiras e Bahia, que votaram a favor de Koff nas eleições, aumentaram suas respectivas salas de troféus. De quebra, Teixeira acariciou o ego do ex-desafeto Pelé, que passou a ser o maior campeão nacional da história (seis conquistas) e pode usar seu prestígio para promover a Copa-2014.
As negociações atuais não interferem, pelo menos na teoria, no Campeonato Brasileiro de 2011. Contudo, o futuro é nebuloso. A criação de uma nova liga de clubes e a organização de um torneio nacional paralelo, possivelmente com a chancela da
própria CBF, são algumas das possibilidades cogitadas. Apesar da ebulição, o Clube dos 13 confirmou que pretende abrir os envelopes com as propostas das emissoras interessadas na transmissão por TV aberta no dia 11 de março.
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