Fenômeno cresceu no subúrbio do Rio de Janeiro jogando bola nas ruas e foi vendido pelo São Cristóvão por apenas 7,5 mil dólares para empresários
Ronaldo São Cristovão (Foto: Arquivo Pessoal)
Em 1994, um garoto magro e dentuço conquistava o Brasil. A comparação com Pelé era inevitável. Aos 17 anos, ele vestia a camisa da seleção brasileira pela primeira vez logo contra a Argentina. No jogo seguinte marcava o primeiro gol contra a Islândia. E após só duas partidas com a amarelinha era convocado para disputar a Copa do Mundo. A história de glória de um garoto pobre, que cresceu em uma casa simples no bairro de Bento Ribeiro, no subúrbio do Rio de Janeiro, começava a ser escrita.
Mais novo dos três filhos de Nélio, que era camelô, e Sônia, sorveteira, ele dormia no sofá. Teve uma infância pobre, embora não miserável. O nome surgiu por causa de uma homenagem feita ao médico Ronaldo Valente, que buscou Dona Sônia em casa no dia 18 de setembro de 1976 em um fusquinha e a levou para o hospital São Francisco Xavier, em Itaguaí, para o parto. O doutor foi também padrinho do atacante, que demorou para ser registrado... Seu Nélio perdeu o prazo e acabou falando que o filho tinha nascido no dia 22 de setembro - quatro dias depois da data verdadeira - para evitar a cobrança de uma multa no cartório de Cascadura.
Era mais fácil encontrar Ronaldo jogando bola nas ruas de Bento Gonçalves do que nas salas de aulas no Colégio Nossa Senhora de Aparecida. Não era um bom aluno, não se sentia à vontade naquele ambiente acadêmico. Nas salas de aulas deixava de ser o garoto admirado pelo futebol apurado e passava a ser vítima de brincadeiras e piadas dos amigos por causa dos dentes incisivos abertos. Não demorou para ganhar o apelido de Mônica, famosa personagem das história de Maurício de Souza. Enquanto construia uma má reputação na escola, Ronaldo ganhava fama entre os peladeiros do bairro.
Não demorou para baterem na porta da casa número 114 da rua General César Obino. Ronaldo recebeu um convite para virar sócio-atleta do Valqueire Tênis Clube. Não havia vaga no time mirim. Acabou virando goleiro. Não deu certo. O time estava em último lugar no Campeonato Carioca de futebol de salão. O técnico Marquinhos resolveu, então, radicalizar. Conhecendo a fama de "Dadado", resolveu colocá-lo em uma partida no ataque. Resultado: Ronaldo fez quatro gols na vitória por 5 a 4 em cima do Vasco, então líder da competição.
Carteirinha de Ronaldo no São Cristovão (Reprodução)
A atuação chamou a atenção de um supervisor do Social Ramos, um outro time que disputava o Carioca. E logo Ronaldo trocaria de clube. O Social Ramos era mais tradicional, disputava o Campeonato Metropolitano. Foi quando o atacante ganhou fama entre quem acompanhava a competição. "Dadado" fez 166 gols na temporada. Passou a ser visto como um garoto extraordinário. E a ideia de seguir os passos do ídolo Zico amadureceram na cabeça de Ronaldo. Aos 12 anos, ele tinha fixo na cabeça que queria jogar no Flamengo. Era o clube do coração, o que pagava bem, o que revelava bons jogadores.
A vontade e a determinação fizeram Ronaldo descobrir o dia e a hora de uma peneira. Pegou dois ônibus até chegar à Gávea e fazer o teste com outros 400 garotos. Passou. Mas não tinha como pagar o transporte para ir treinar todos os dias. E não conseguiu ajuda no Flamengo. Precisou desistir da ideia. Acabou, então, em São Cristóvão. Um convênio com o Social Ramos levou o atacante aos primeiros treinos no clube. O técnico Roberto Gaglianone logo percebeu que havia ali um jogador diferenciado. Conseguiu, então, que o diretor Ary de Sá pagasse o trem de Bento Ribeiro até a Central.
No dia 12 de agosto de 1990, Ronaldo fez seu primeiro jogo pelo mirim do São Cristóvão. E marcou três gols na vitória por 5 a 2 sobre o Tomazinho. No total, foram oito gols em 12 jogos naquele ano.
Súmula do primeiro jogo de Ronaldo pelo São Cristovão, em 1990: três gols e vitória (Foto: Reprodução)
No seguinte, já no infantil, foram 28 jogos e 17 gols. Ronaldo, lógico, despertou a atenção de empresários. Por indicação de Jairzinho, o Furacão do Tri, Reinaldo Pitta e Alexandre Martins compraram o passe do atacante aos 15 anos pagando apenas US$ 7,5 mil ao São Cristóvão, em 1992. Apesar do valor irrisório da venda, o São Cristóvão lucrou bastante com o sucesso de Ronaldo. De acordo com o Estatuto de Transferência do Jogador, editado pela Fifa em outubro de 2003, todo clube formador de atleta tem direito a 5% de cada transferência do pupilo. Com isso, o clube carioca faturou R$ 1.269.849 do Real Madrid e mais R$ 122.363 do Milan.
Ronaldo São Cristovão (Foto: Divulgação)
Reinaldo Pitta e Alexandre Martins tentaram levar Ronaldo para o São Paulo e para o Botafogo. Mas não tiveram sucesso. A primeira ideia da dupla era vender 50% do passe do atacante para o Alvinegro, que seria uma boa vitrine. Mas o clube carioca não quis. Já com o Tricolor a proposta era oferecer Ronaldo por R$ 25 mil, que só queria pagar R$ 15 mil.
Foram dois anos e meio jogando nas divisões de base do São Cristóvão, onde marcou 44 gols em 73 jogos. Em 1993, Ronaldo foi convocado para disputar o Sul-Americano sub-17 com a seleção brasileira. Apesar do fracasso - o Brasil terminou em quarto lugar e ficou fora do Campeonato Mundial da categoria pela primeira e única vez da história - o atacante se salvou e foi o artilheiro da competição com oito gols. Motivo suficiente para chamar a atenção do Cruzeiro.
Pouco tempo depois, o atacante desembarcava em Belo Horizonte para começar a brilhar. O time mineiro aceitou pagar US$ 50 mil por 55% dos direitos econômicos do jogador. Era conhecido ainda apenas como "Ronaldo Luís".
Aos 16 anos, Ronaldo no Cruzeiro (Foto: Reprodução)
Sua estréia com a camisa do Cruzeiro aconteceu em em março de 1993, contra o Botafogo de Matosinhos-MG, na preliminar de Cruzeiro e Desportiva-ES, pela Copa do Brasil, no Mineirão. Ronaldo marcou dois gols na goleada por 4 a 1. Pouco depois conquistou a Supertaça Minas Gerais e a Copa Belo Horizonte de Futebol Júnior tornando-se o artilheiro em ambas as competições. Destacou-se e passou a ser tratado como um jogador especial.
Quando o Cruzeiro avançou para a fase semifinal da Copa do Brasil, o técnico Pinheiro poupou os titulares e escalou um mistão para as partidas do Campeonato Mineiro. Ronaldo passou a ser relacionado. Foi escalado como titular contra a Caldense e fez sua estreia entre os profissionais aos 16 anos no dia 25 de maio de 1993, em Poços de Caldas, na vitória por 1 a 0 sobre a Caldense.
Aos 16 anos, Ronaldo fez sua estreia no futebol profissional. Foi no dia 25 de maio de 1993, pelo Campeonato Mineiro. Mesmo quando não era relacionado para as partidas, Ronaldo se concentrava com o time principal. E acompanhou a delegação do time à Porto Alegre, onde ocorreria a decisão da Copa do Brasil contra o Grêmio. Em agosto, viajou para disputar amistosos na Europa. Fez o primeiro gol como profissional em cima do Belenenses.
Voltou da excursão por Portugal despertando interesses de dirigentes italianos. O Cruzeiro recebeu a primeira sondagem do Inter de Milão, recusada mesmo com proposta de 500 mil dólares (o que significava uma valorização de 1.000% em cinco meses). Preferiu apostar na revelação. Deu certo. Era o início de uma carreira de glórias... Em pouco tempo, Ronaldo teria o mundo às suas mãos, conquistaria títulos, seria eleito três vezes o melhor jogador do mundo pela Fifa, viraria o ícone de uma geração...
Do blog: Mesmo não jogando no Flamengo, clube de coração, Ronaldo sempre foi respeitado e amado, talvez um ou outro torcedor tenho o chingado, dito algumas besteiras, agora, é inegável a força de vontade que esse cara teve durante toda a sua carreira, e é por esses e outros motivos que o blog te dá os parábens. Boa sorte e viva o churrasco!
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