quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Entrevista: Patricia Amorim: 'Mudou o astral. Tomara que ele esteja inspirado'

Em entrevista exclusiva ao LANCENET!, Patricia Amorim comenta expectativa sobre a estreia de Ronaldinho Gaúcho no Flamengo

Por Lancenet - Postado por Abraao Na Rede

De seu gabinete, na Gávea, a presidente Patricia Amorim tenta conter a ansiedade. Após longa novela e inúmeras negociações, o dia chegou. O sonho perseguido com tanta insistência se materializará hoje. Ronaldinho Gaúcho vestirá a camisa 10 do clube. A dificuldade, agora, está em administrar os inúmeros pedidos de ingressos para assistir ao jogo, contando até com amigos dos filhos.

Patrícia Amorim e Ronaldinho

Claramente mais relaxada após o turbulento ano de 2010, Patricia reconhece que
Ronaldinho trouxe de volta a alegria ao clube. Nesta entrevista exclusiva ao LANCENET!, por telefone, a presidente contou os dias de ansiedade, a relação com Ronaldinho e a expectativa por sua estreia nesta quarta-feira. Confira.

Qual a expectativa da presidente para a estreia de Ronaldinho Gaúcho?

Aqui o movimento tem sido grande. Uma alegria tomou conta de todos e é uma expectativa de um jogo que tenha uma dimensão de um grande espetáculo. Recebemos pedidos de credenciamento do New York Times, de TV Canadense, TV alemã. O Flamengo atingiu o que sempre queríamos: ultrapassar as fronteiras do Brasil.

Acha que ele vai jogar bem?

A expectativa é de um grande futebol. Logicamente que entrosamento e sintonia não sabemos se vai ter no primeiro jogo. De qualquer maneira, ele é diferenciado. Talento você não aprende. Você tem. Tomara que ele esteja inspirado e faça a torcida vibrar porque ela merece essa alegria.

Como evitar o oba-oba?

A gente não está nesse clima de oba-oba, não. Estive no hotel com os jogadores. Falei com o Léo Moura, conversei com o Vanderlei, o Isaías, o Luiz Augusto. Não tem esse clima, não. Isso é mais para o
torcedor e para a gente que está aqui na Gávea, em outro estágio. É algo mais externo do que interno.

Mas não houve essa preocupação da diretoria?

Sempre houve. Inclusive a importância de o Ronaldo assistir aos jogos, sentir o clima. Porque na Europa é um clima, aqui é outro. Tivemos a preocupação dele ir para Londrina desde cedo. Sempre tivemos a preocupação de não virar oba-oba. Conversamos com a família dele, não só com o Assis (irmão e empresário de Ronaldinho). Desde o segurança até a irmã, a cunhada. Temos um convívio muito bom. Externamente é uma
loucura, lógico. Lá para casa ligam perguntando se podem ir ao jogo de estreia com os meninos. Digo que a mãe está muito ocupada. Não pode nem tomar conta dos filhos dela, imagine dos filhos dos outros?

Já há grande diferença nesse Flamengo com Ronaldinho?

Ele mudou completamente o astral, até a motivação dos jogadores. Mesmo os jogadores que jogaram no ano passado. Estão mais alegres. A torcida com camisa na rua. Mudou completamente o astral de todos nós. Mas é diferente da situação do América do México. Temos 12 pontos no campeonato, estamos com uma margem boa.

Dá para garantir que Ronaldinho não terá privilégios?

Ele não tem. Treina no mesmo horário, joga os mesmos jogos, viaja no mesmo avião, come a mesma comida. Não há diferenciação. E não tem nada que diga que o comportamento deve ser diferenciado. Isso não faz bem para o time, né? E acho que ele nem gosta.

Os seguranças que o acompanham são dele ou do clube?

São seguranças dele, que o acompanham. Mas quando ele está no vestiário, concentrado, são os seguranças do Flamengo. Os seguranças dele não vão no ônibus. Por acaso, ele ainda está
hospedado no mesmo hotel em que o Flamengo concentra e lá estão os seguranças dele. Mas os seguranças dele falam com os seguranças do Flamengo. Não há melindre. Para não atrapalhar, eles ficam em um determinado local. Quando o Ronaldo sair do estádio, a responsabilidade é deles. Mas enquanto estiver com o Flamengo, a segurança é do Flamengo.

Ele é o jogador que a diretoria queria para mudar a imagem do clube após 2010?

Foi um ano ruim. A torcida ficou triste, chateada, retraída, mais pela situação do Bruno. Agora resgatamos a alegria da torcida cantar. Vi na
internet imagens da torcida cantando no intervalo do jogo, nos corredores. Isso é bacana. A gente mudou o clima, mudou o astral, o ambiente. Criou-se uma situação favorável. A vinda dele levanta a autoestima do torcedor.

Ao olhar para o futuro, a presidente já vê Ronaldinho como o maior feito de sua gestão?

Eu quero o melhor para o Flamengo. Consegui ajudar o Flamengo a trazer um jogador desse, isso é positivo, trabalhei muito. Se é bom para o Flamengo é bom para mim. Não tenho vaidade. Se é um momento maior, mais forte, representativo? É o mais
alegre. Depois de um ano difícil. Gostei muito da estreia do Thiago Neves, estava com uma expectativa grande. Foi um jogador pelo qual que briguei muito. Não foi fácil. O Ronaldo tem uma dimensão maior por tudo o que ele conquistou. É um momento alegre. Me perguntaram se foi o momento mais emocionante da carreira. Já tive vários, como nadadora. Talvez como presidente do Flamengo. Espero que os mais emocionantes sejam as vitórias, as conquistas. O Ronaldinho hoje é muito importante pelo público que traz ao estádio, pela qualidade de jogador que ele é, pela alegria que traz ao torcedor.
Para a garotada que ganhou a Copinha agora é um sonho. E queremos manter esse sonho vivo. Mas tivemos momentos felizes também com o Cielo, com o Marcelinho, com o Diego Hypolito quando foi campeão mundial. A vinda do Luxemburgo também foi uma conquista importante. Depois de um ano difícil, um dos momentos mais alegres, mais felizes. Quando o Ronaldinho foi apresentado no campo do Flamengo foi muito emocionante. Senti que tinham aprovado. Fiquei muito emocionada com o título da Copinha. Foi muito importante. Quero que a maior emoção seja levantar o troféu em uma conquista. Prefiro guardar essa emoção
para título do Flamengo.

Foram as contratações que fizerama senhora estar mais próxima do futebol ou é coincidência?

Eu percebi duas coisas. A primeira é que o caminho da profissionalização é deixar os profissionais trabalharem. Eu não nomeei nenhum vice- presidente de futebol anida porque eu queria que os profissionais trabalhassem. É importante todos se sentirem seguros. Estou o tempo inteiro com eles, nas contratações, nos jogos, nas concentrações para passar essa segurança. Quando tudo estiver em uma normalidade, funcionando, aí vou nomear alguém. Até porque não consigo aguentar tanta coisa ao mesmo tempo. Até para ajudar novos
patrocinadores, prospectar parceiros, fazer a boa política. Aí esse dia a dia não poderia mais acompanhar como hoje, o que é um grande prazer. É minimizar a figura dos dirigentes amadores, que são importantes e é uma equipe. Mas são fundamentais até onde eles não querem ter uma importância maior do que o time, os jogadores, do que a instituição. Em relação a participar mais ativamente pela minha forma de trabalhar, mais serena, mais discreta, consegui segurar alguns segredos que foram mais importantes na engociação. Isso foi importante. Não teve perigo de frustrar os torcedores caso a gente não conseguisse.

Juan, zagueiro do Roma, disse a um programa de tv que sempre conversa com pessoas ligadas a um clube e um dia tem o desejo de voltar. O Flamengo tem interesse no zagueiro?

O Centro de Treinamento tem a ver com a formação e não abro não. Tivemos uma preocpação em 2010 de renovar os contratos e não vender percentual de nenhum jogador da base. Pelo contrário. A preocupação era colocá-los para jogar. Tivemos preocupação com as multas rescisórias, de dar ao Flamengo essa consistência patrimonial. Recebi a proposta ano passado de um milhão de dólares por 50%
dos direitos do Diego Maurício, por exemplo. Hoje você não conversa por menos de seis, sete milhões de euros. Ele fez gol na Seleção sub-20 no último jogo e por aí vai. No orçamento que planejamos neste ano, com uma receita estimada de R$ 150 milhões, não colocamos um real de venda de jogador. Temos uma segurança com o Ronaldinho, com os resultados do futebol de conseguir bons patrocínios. Mas tenho sempre um plano B e C de jogador, que não quero vender. Lutei contra tudo e contra todos aqui. Hoje, na maioria dos jogadores, temos 80%, 90% dos
direitos. Isso é importantíssimo para a gente. Porque eu cheguei aqui, vendemos o Aírton e tinha só 15% dos direitos. Depois perdemos o Fabrício. Tínhamos uma preocupação com a saída do Obina. Perderíamos tudo em dois meses, hoje temos 28,5%. Com essa saída dele para a China, esperamos receber 600mil, 700 mil euros. Então tive essa preocupação. É importante repatriar jogadores formados aqui e você mostra para os meninos revelados que o clube tem a competência de formar e num segundo passo de manter e contratar grandes jogadores. Lógico que está muito longe, mas o plano de ser um Barcelona
está se aproximando. Eu cheguei aqui e não havia preocupação com esses meninos. Ainda temos muitas falhas, devemos muitos a esses meninos e eu assumo, não tenho vergonha.

Mas o Flamengo tem interesse no Juan, do Roma?

No Juan tem interesse, sim, claro. O Welinton, que nós compramos parte dos direitos de volta, e o David Braz são jogadores jovens. E você traz o Juan, zagueiro de Seleção Brasileira...seria importante. Como foi importante manter o Angelim. Não o mantivemos pelo gol do título, mas pela importância dele, do caráter, da referência. Sempre disse como presidente que eu gostaria
de ter três jogadores formados aqui: o Ibson, o Juan e o Julio Cesar. Não sei se vai ser possível, mas...a gente sempre conversa com o Juan, isso é verdade.

Em relação ao Petkovic houve essa preocupação? Afinal, é um ídolo e treina à parte.

A gente tem preocupação. Ele tem contrato de mais um ano, temos carinho pelo Pet. Mas a torcida além de nos cobrar sobre o Pet, ela também cobra resultados. Se o treinador achou que não era interessante no momento...mas ele é jogador do clube. Não interfiro em questões técnicas. Se até determinado momento
ele não for aproveitado, a gente pensa em aproveitar de outra forma.

Ele poderia ter outra função, como embaixador do clube?

Pode ser (embaixador). Ele é muito inteligente. Mas é um assunto muito delicado. Tem de ser tratado com toda importância e cuidado que exige. Tem de ser confortável para todas as partes. Por enquanto, é um jogador que está à disposição do clube, que cumpre contrato e que o treinador no momento não quer aproveitá-lo. É esperar para ver se vai continuar dessa forma. A partir daí, vamos pensar em outras formas. Ainda não avancei nisso porque
sou delicada.

Então não houve conversa da diretoria com o procurador dele para haver uma decisão?

Não. A situação continua como está.

E o palpite da presidente para a estreia, qual é?

A minha expectativa como presidente e torcedora é vitória. Serão importante mais três pontinhos. Não acho que será fácil. Todos os jogos são difíceis, é estreia, pode deixar os jogadores ansiosos ou motivados. Mas fico sonhando com uma vitória, claro. Não posso mentir. Pode não acontecer, mas a expectativa é essa. Dou-me por satisfeita se sairmos com uma vitória.

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